Rodrigo Dias

A idade madura é um período revelador. Quem está nesta fase da vida conseguirá me entender bem. Ao transcorrer este período é possível colher experiências dos mais variados aspectos e, ainda, se tem fôlego para reescrever, por meio das vivências adquiridas, novas histórias.

Quando se tem mais de cinco décadas de existência não é permitido, mais, errar sobre determinadas coisas. A maturidade deixa o homem mais apto. Os netos, por exemplo, terão um tratamento mais diferenciado do que o que foi dado aos filhos. O repertório aumenta e já se tem os exemplos concretos do que não deu certo e do que deu na criação dos filhos. Logo, a influência na criação dos netos tende a ser mais exitosa aos 50 anos.

Meio século de existência é tempo mais que suficiente para aprimorar o exercício da autocrítica e se postar de uma forma mais conveniente perante a determinadas situações. Afinal, o mundo também mudou neste mesmo período e há de se adaptar a ele.

Numa sociedade mais crítica e com mais acesso a informação, o ser impositivo é algo que não cabe mais. Todos, num instante, já são capazes de julgar o seu passado.

A Vênus Platinada tomou consciência disto e ao completar 50 anos fez alguns exames de consciência. Com muito jeitinho admitiu erros no seu passado, como a aproximação com os governos militares e a eleição de 1989, quando influenciou para a derrota de Lula e vitória de Collor.

Esses são dois casos clássicos, mas há muito mais que pode ser objeto de reflexão; como a criação de estereótipos e uma doce alienação contida na sua dramaturgia e jornalismo, que influencia em padrões de comportamentos e ajuda a garantir o monopólio midiático daquela emissora.

É obvio que houve contribuições importantes para o país nestes anos, mas quem é líder e detém um poder tão grande de penetração nos lares brasileiros deveria se pautar pelo mais e variado sempre. Pelo entretenimento, mas também pelo enriquecimento cultural descentralizado que dê uma ideia de Brasil mais amplo e não de sujeitar milhares de pessoas ao jeito de ser paulista ou carioca, maciçamente mais explorados do que os demais brasis – que quando aparecem são quase sempre caricaturados – existentes fora daquele eixo.

Notadamente, a emissora cinquentenária é uma fábrica de sonhos e vende bem este produto. Com ar patriarcal detém opinião e sabe impô-la por meio do seu telejornalismo. Prova é que para milhares de pessoas um fato só ganha relevância se for noticiado pelo JN.

Mas a situação começa a ficar desconfortável. Um novo público, na busca por conteúdo mais isento, questiona a emissora sobre vários aspectos. Em um deles está a insistência da Vênus Platinada em influenciar o país politicamente. Se a eleição de 1989 até hoje é debatida e mereceu um pedido de desculpa à nação, o que dirá dos fatos que ocorrem atualmente? Qual o grau de intencionalidade neles? Tudo o que é apresentado ao público é feito com a devida isenção? Serão necessárias mais algumas décadas para outra mea-culpa?

Se for assim, de nada adiantou a maturidade. Aprender com os velhos erros.