Na sociedade do espetáculo, o Santo Padre é um homem discreto. No domingo cedo fez suas orações, conversou com fieis e mais tarde foi se internar para uma cirurgia. Sem alarde, chegou ao hospital com o motorista e um assessor. Só depois de quase tudo feito é que o mundo tomou ciência de que Francisco estava internado. Correu tudo bem.

O Santo Padre é um adorador do silêncio. Devoto do gesto que diz. Certa vez escrevi: “Silêncio é gestação”. É o tempo aproveitado para pensar e germinar passos.

Os tempos atuais são de muito barulho.

Seja no grito ou na retórica verborrágica, a poluição está aí. Falar se tornou uma compulsão. Falas atravessadas repetidas à exaustão sem ninguém deter a razão dos fatos.

O expediente na CPI da Covid ilustra bem o defendido nesse artigo. Lá é o templo da fala. Fala-se muito por atropelo. Tanto que o som vira zoeira e os nobres senadores, meros falastrões.

São falas que oprimem, falas que agridem e falas que tiram a voz do outro. Pior, tiram a expressão. A possibilidade de também se posicionar e de estabelecer um diálogo. Falas autoritárias não aceitam contradita.

Seja lá na CPI da Covid ou em outros ambientes, estamos precisados de bons escutadores. Ouvidos e mentes atentas em compreender a fala e mais: o emissor da mensagem. Por vezes o sentido pode estar mais em quem diz do que na própria fala.

Entender os porquês e a forma que um assunto é dito é mais claro do que a própria mensagem, que pode ocultar intenções. E ainda tem aqueles que só falam. Estranhamente, não processam o que dizem.

É fala feita de vazios e carências que parece ser dita para convencer mais quem diz de uma verdade, argumento, que lhe falta. É como comer demais sem ter fome ou beber como fuga. É a fala como um sinal patológico.

O silêncio deveria anteceder a fala e não o contrário.

O silêncio é esse lugar – uma espécie de capela – aonde se vai para encontrar com o que é mais íntimo e verdadeiro em nós. Templo para conversar e confessar.

Um lugar Santo com a capacidade de moderar e purificar a fala antes mesmo de ser professada. Em dias tão ruidosos o silêncio é redentor. Francisco ensina bem essa lição e para isso não utilizou uma palavra, mas está sendo eloquente e nos diz muito.

Bom, acho que já falei muito.

É hora de fazer silêncio. Falar para dentro e ouvir.


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