Petição foi criada na internet para que a exposição de alunos de escola estadual seja retirada da Câmara de Divinópolis

Marcelo Lopes

Uma exposição de arte presente no Espaço de Cultura GTO, na Câmara Municipal de Divinópolis, vem sendo alvo de polêmica durante essa semana. As obras apresentadas na mostra “Um Olhar para a História da Arte”, realizada por ex-alunos da E.E. Manoel Corrêa Filho, que conta com fotos que retratam pinturas clássicas, foram criticadas por alguns moradores, com a justificativa de que as imagens debocham e ofendem a religião católica. O assunto também foi pauta durante a reunião ordinária realizada nesta quinta-feira (07). Os vereadores Cleitinho Azevedo (PPS), Sargento Élton (PEN), Janete Aparecida (PSD) e Raimundo Nonato (PDT), também mostraram repúdio nos pronunciamentos, dizendo que as imagens são uma afronta à fé cristã.

Uma petição na internet foi criada contra a exposição, pedindo para que as obras fossem retiradas do hall de acesso ao plenário. Em um trecho do texto do abaixo assinado virtual, os autores também demonstraram indignação. Até o fechamento desta reportagem, o documento on-line conta com cerca de 300 assinaturas

“O povo, majoritariamente cristão, não pode ser ofendido assim, e menos ainda, num espaço público sustentado pelos nossos impostos”, disseram.

No texto, também é citado o artigo 208 do Código Penal Brasileiro, que diz que “escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso”.

Câmara Municipal

Em contato com o secretário geral da Câmara Municipal de Divinópolis, Flávio Ramos, o mesmo disse ao PORTAL que a casa, institucionalmente, não entra neste tipo de discussão, visto que a entidade apenas cede o espaço para a divulgação das obras e que a retirada das mesmas fica em responsabilidade de quem organiza as exposições.

“A casa não entra nessa discussão e nem faz censura prévia em relação às exposições que são trazidas para a apreciação do público, visto ser este conteúdo de responsabilidade daqueles que montam as mostras de arte”, disse.

Escola

Obras estão expostas na Câmara Municipal de Divinópolis – Fotos: Marcelo Lopes/PCO

Fabrício Oliveira, diretor da escola Manoel Corrêa Filho, relatou que pretende manter a mostra ativa até quando puder, sendo o último dia em 20 de junho e que em momento algum a professora responsável, Dorinha Barreto, quis ofender qualquer religião ou doutrina e discutir o assunto com os alunos.

“Eles tinham que trazer para a contemporaneidade, algum elemento e fazer uma releitura da obra e com isso eles acabaram usando muito a criatividade, estudando os autores, que são complexos nas obras e importantes para os períodos em que eles atuaram. Então os alunos se aprofundaram bastante e ficaram durante o bimestre trabalhando sobre estes autores, tiveram que se preocupar com iluminação, a forma que a fotografia ia sair, trouxeram para a professora olhar. Alguns tiveram que refazer (…) e a nossa intenção era fazer com que os alunos trabalhassem e conhecessem a arte de artistas e obras famosas e com isso pudessem fazer uma releitura destas obras de uma forma mais moderna”, relatou ao PORTAL.

Ainda de acordo com o diretor, a forma na qual as pessoas interpretam as obras foi feita de forma maldosa as mesmas pensaram de uma forma na qual as mesmas fossem algo sagradas e que, segundo ele, não são.

“As obras são de um artista que nem era reconhecido pela própria Igreja Católica. Tem alguns trabalhos que são baseadas na pintura de Caravaggio e então nós acreditamos que as pessoas deveriam analisar melhor, perceber que existe uma crítica ali, mas em relação com algumas questões da atualidade, como por exemplo sobre a vaidade, sobre o uso do celular e da tecnologia e a fé, com relação a sempre que é retratada uma obra religiosa, em alguma ceia, temos o vinho, que teve uma obra até criticada pelo Sargento Élton, em que ele coloca que os alunos estavam fazendo apologia a bebida alcoólica, porque eles colocaram uma garrafa de uísque, como se fosse uma jarra de vinho, assim como está na figura. Acho que exageraram e acabaram desrespeitando um pouco o trabalho que foi feito pela professora”, disse.

Sobre como a professora recebeu essas críticas, Fabrício disse que a mesma se chateou por ter sido mal interpretada e que Dorinha Barreto é uma das professoras de português com mais tempo de trabalho na escola. Segundo o diretor, os alunos mostrados nas fotos autorizaram que a exposição acontecesse.