estupro - divinópolis - portal Centro Oeste

 

Houve um tempo, não tanto assim, em que nem tudo precisava ser dito ou ensinado.

 

Papai, com seus olhos largos e amendoados, esticava seu dedo invisível até meus olhos apenas com um olhar, mediante qualquer pensamento errado que ele imaginava que eu estava formando – às vezes nem estava.

 

Não podia jogar bola dentro de casa, brincar na porta do vizinho, subir no monte de areia, colher frutos verdes ou montar no Rex. Nada disto foi dito, ensinado ou imposto – era sabido.

 

Tia Lenice não ligava a TV antes das 9 horas, porque meu avô chegava tarde da oficina e mamãe não fazia almoço muito cedo, porque sabia que ninguém comia e esfriava.

 

E hoje, em qualquer site de notícias ou canal de TV, me deparo com campanhas de conscientização de mulheres que não querem ser estupradas, passeatas que miram homens que não entendem que aquilo é errado, ou simplesmente não importam. São campanhas voltadas para lares desguarnecidos de um olhar educador, onde o abajur quebrado com um estilingue só tinha os cacos juntados, os gritos dos vizinhos com a bola no seu portão era ignorados e as mangas verdes apodreciam no chão com apenas uma mordida, antes de amadurecerem.