Delegado regional da PC reafirmou precisão da perícia dos áudios com suposta negociata de cargos na Prefeitura de Divinópolis

As oitivas da Comissão Processante que investiga supostas irregularidades cometidas pelo prefeito de Divinópolis, Galileu Machada (MDB) foram encerradas na tarde desta quarta (31). Nove testemunhas de defesa e acusação foram ouvidas.

Os primeiros depoentes foram o advogado Jarbas Lacerda e o ex-aliado do prefeito, Marcelo Máximo Marreco, como já mostrou o PORTAL (leia aqui). Este último foi responsável pelo vazamento de áudios que apontam possível negociata de cargos na prefeitura.

Cada depoimento durou menos de 30 minutos. As perguntas superficiais e sem preparo levaram a respostas vagas e sem surpresas.

Geraldo Passos

O editor do Divinews, Geraldo Passos estava entre os depoentes. Logo no início ele tentou emplacar a leitura de um documento com supostas mensagens que Marreco teria encaminhado a ele, entretanto, desistiu quando foi informado que elas não serviriam como provas.

Passos é apontado como um dos envolvidos na suposta negociata de cargos. Dois áudios revelam duas ligações feitas por ele a Marreco.

Na oitiva, ele disse que foi procurado primeiro pelo denunciante e confirmou que ele era fonte dele. Esse contato, segundo Passos, ocorre desde gestões passadas em uma relação “institucional”.

Em uma das gravações, o editor tenta desestimular Marreco a usar a Tribuna Livre. Ele havia se inscrito para divulgar os áudios das ligações e denunciar possíveis ilegalidades cometidas pelo prefeito ao oferece-lo um cargo sem trabalhar.

Questionado sobre a ligação, Passos disse ser um “lance humanitário” para ele [Marreco] não “se atrapalhar mais do que ele estava atrapalhado”. Em um áudio, o editor do Divinews fala da nomeação de Marreco e em outro cita o valor do salário, R$2,6 mil mais benefícios.

Ele também foi perguntado sobre o motivo de ter convidado Marreco a ir em Itapecerica no mesmo dia da inscrição da Tribuna.

“Para passear”, ironizou.

Em um dos áudios revelado por Marreco, Geraldo o convida para ir a Itapecerica e o sugere fingir que perdeu a hora para não comparecer à câmara.

“Vamos lá comigo entrevistar o prefeito […] você perde a hora na volta. Fala que estava comigo, que o carro quebrou”.

Cargos

Sobre a interlocução para a nomeação afirmou:

“Só pedi. Os vereadores pedem. O senhor [Sargento Elton] pode não pedir”, disparou, acrescentando que a decisão de nomear ou não é do chefe do Executivo.

A declaração forçou o presidente da câmara a solicitar nomes de quem teria pedido cargos ao prefeito. Ao se recusar a responder, foi alertado sobre falso testemunho.

Ao ser pressionado, ele recuou e disse não ter conhecimento sobre pedidos de cargos.

Kaboja

O presidente da Câmara, Rodrigo Kaboja (PSD) também foi arrolado como testemunha. Em depoimento disse não ter nenhuma ligação com Marreco.

“Ele [Marreco] mesmo disse que filma e grava tudo e eu nunca fui filmado e nem gravado”.

Indagado sobre as articulações para a presidência da câmara afirmou:

“Não precisei de Galileu, ex-prefeito e nem prefeito. Conquistei os vereadores um a um com respeito, amizade”, disse completando que tem bagagem por ser o vereador com mais mandatos.

Denúncias envolvendo a câmara foram protocoladas no Ministério Público pelo vereador Sargento Elton (Patriota). Dentre elas está a de suposta compra de votos para a eleição da Mesa Diretora que elegeu Kaboja.

Mesmo com as denúncias que pesam contra ele, o presidente negou envolvimento com a negociata de cargos.

“Nem sei o que estou fazendo aqui”.

Eduardo Augusto

A defesa do prefeito tentou impedir o testemunho do advogado e representante da Associação dos Advogados do Centro-Oeste (AACO), Eduardo Augusto. A alegação era de que ele era parte interessada por ser subscritor da denúncia envolvendo a regulamentação do rotativo.

O pedido foi indeferido. Eduardo Augusto reafirmou todas as argumentações que o levaram a acionar o Ministério Público contra o decreto 13.059 que regulamenta o serviço. Para ele, a norma gerava renúncia de receita ao substituir a multa por uma notificação inicial.

Daniel Cortez citou municípios, no Sul do país, onde a prática já existe. Afirmou também que há vários pareceres de órgãos de trânsito pela legalidade.

Artigos do decreto foram revogados.

José Alonso

No período da tarde o assessor especial de governo, José Alonso abriu os depoimentos. Questionado sobre a declaração de que na prefeitura há pessoas que não gostam de trabalhar, ele recuou e negou ter se referido à Divinópolis.

“Eu disse que não somente na prefeitura, mas em todos os órgãos públicos há pessoas que não trabalham”, afirmou.

Apesar da declaração, ao contrário da postura tomada com outros depoentes, o presidente da comissão não o pressionou a dizer nomes de quem seriam essas pessoas.

Wilson Novaes

O depoimento do diretor administrativo, Wilson Novaes foi na mesma linha. Ele disse que a frequência é controlada pela chefia direta e que qualquer frequência torna-se de conhecimento em 30 dias.

Leonardo Pio

O delegado regional, Leonardo Pio foi indagado sobre o decreto 13.059 e também em relação a perícia que concluiu a veracidade dos áudios.

Mesmo sem conhecer a íntegra do decreto, afirmou que, com base no publicado pela imprensa, ele tinha finalidade pedagógica prevista do Código de Trânsito. Disse também que não via na norma qualquer vício de ilegalidade.

Sobre os áudios, confirmou o resultado da perícia e o classificou como preciso por ter sido concluso. O relatório revelou que não houve edições.

Márcio Azevedo

O procurador adjunto do município, Márcio Azevedo foi o último a ser ouvido. O depoimento dele resumiu-se a suposta renúncia de receita. Para ele, o decreto 13.059 não configura renúncia de receita, pois o aviso de irregularidade está diretamente relacionado a uma eventual reposição de multa.

Segundo ele, como multa não possui viés tributário não há renúncia de receita.

Próximos passos

A próxima oitiva será a do prefeito. Ela deve ser realizada na próxima quarta (07), mas a data não foi confirmada, assim como o local. Galileu tem a prerrogativa de ser ouvido na prefeitura.

Após colher o depoimento o relatório deverá ser concluído pelo relator, Renato Ferreira (PSDB). Durante todos os depoimentos ele se manteve em silêncio.

FOTOS: Divulgação/CMD