
Para marcar ainda mais o clima de festa que contagia o Brasil desde o fim de semana, o filme “Ainda estou aqui”, dirigido por Walter Salles e protagonizado por Fernanda Torres, foi premiado com o Oscar de Melhor Filme Internacional, o primeiro brasileiro nessa categoria. A obra é inspirada no livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens e Eunice Paiva, família base da história.
O filme narra os tempos difíceis da ditadura militar, de repressão, censura, tortura e desaparecimento de civis. No caso da família Paiva, no Rio de Janeiro, na década de 70, Rubens, ex-deputado federal pelo PTB (Partido Trabalhista do Brasil – o mesmo de Getúlio Vargas), foi levado de casa sob acusação de facilitar a luta armada contra o regime.
Ao sair de casa “apenas para um interrogatório”, sua esposa, Eunice, jamais imaginou que essa seria a última vez que o veria. Logo após, ela e sua filha Eliana também foram levadas a um posto do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). Ambas foram submetidas a interrogatórios ostensivos, visualizaram pessoas sendo torturadas e sofreram o desespero pela própria vida e pela de Rubens. Eliana foi solta após 24 horas, Eunice, após 12 dias.
Após voltar para casa, conversar com amigos de seu marido, buscar por respostas e, de fato, entender que seu marido já poderia estar morto, Eunice decide ir com as crianças para São Paulo. Antes, uma das cenas que mais me impacta – quando pedida para fazer uma foto com os filhos sem sorrir, por solicitação do editor de jornal que conhecia sua história, ela diz: “Nós vamos sorrir”.
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Símbolo de resignação
Para mim, esse é um dos maiores símbolos de resignação diante das dores e dificuldades da vida: sorrir, mesmo quando tudo está difícil. Em São Paulo, torna-se uma ativista pela democracia e contra o regime militar. Em 1996, tiraria uma foto que ficaria marcada para sempre: com a certidão de óbito de seu marido – processo que foi permitido após a criação da Comissão Especial sobre Mortos e Desparecidos Políticos (CEMDP), por parte do governo FHC. No dia 13 de dezembro de 2018, exatamente 50 anos após a promulgação do AI-5 (Ato Institucional nº 5), um dos mais rígidos da ditadura, Eunice faleceu após 15 anos com a doença de Alzheimer.
Apesar de toda a comoção gerada pelo filme, é importante nos atentarmos para o mais importante: o valor da democracia como garantia da paz.
Hoje, podemos ter discordâncias político-partidárias com quem for – nada nos impede, apesar do extremismo em que se encontra o Brasil, não temos problemas como o medo de sermos sequestrados, torturados e, até mesmo, mortos. Além disso, penso sobre o quão difícil deve ter sido para a família Paiva reajustar sua vida e ainda conviver com o luto sem nem mesmo saber onde estava o corpo de Rubens.
Voltando à parte da premiação, é um orgulho enorme para o Brasil. Infelizmente, Fernanda Torres não ganhou o Oscar na categoria de melhor atriz, mas assim como sua mãe, Fernanda Montenegro, foi a única atriz brasileira a ser indicada ao prêmio. Além disso, em janeiro, no Globo de Ouro, na categoria de melhor atriz, foi a primeira latino-americana a ganhar a premiação. Sem mencionar todas as outras indicações, é mais uma mostra de tudo o que a Cultura pode fazer pelo Brasil: o reconhecimento do cinema nacional, o resgate da nossa história, a união do nosso povo e, ainda, a movimentação da economia com a geração de empregos.
É por isso que sou grande defensora da pauta cultural. Não se trata de ideologia política, mas de história, de patriotismo e de valores importantíssimos para nosso povo. Espero que, muito em breve, o Brasil conquiste outros prêmios, não apenas no cinema. Somos um povo criativo e devotado a produzir o melhor do que habita em nós.
*Laiz Soares escreve semanalmente neste espaço.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do PORTAL GERAIS.