Acredito que a formação acadêmica agrega muito na formação de bons profissionais, como abordei no meu último texto. Agora retomo o assunto para tratar especificamente do ensino de jornalismo nas faculdades, que perpassa pela dialética entre técnica e a estética.
Como profissional formado e professor na área, posso dizer, antes de tudo, que a formação de base (1º e 2º grau) é umas das grandes vilãs dos universitários, sejam calouros ou os quase formandos. É incrível como alguns têm uma dificuldade tremenda em conseguir se expressar, de forma clara e se possível atrativa, suas ideias. Para um curso de bacharelado em comunicação social, conseguir se expressar bem é um pré-requisito fundamental para um futuro bom profissional.
E assumindo aqui o papel de advogado do diabo, infelizmente, outro fator que é preciso levar em conta, é que existem entidades de ensino superior e/ou professores que não agregam conhecimento nenhum ao aluno. Isso é uma verdade no curso de comunicação, assim como em qualquer curso superior. E existe o outro lado da moeda, com alunos que não conseguem tirar proveito do que é ofertado por boas entidades de ensino e/ou bons professores.
Dito isso, fica claro que nem todo o profissional graduado pode ser considerado excelente na área em que atua. Nesse ponto, aqueles que desenvolvem habilidades natas, em específico no jornalismo, podem se sair muito melhor, seja escrevendo, falando ou apresentando. Então a formação acadêmica relevante seria o resultado da união de uma boa entidade de ensino, bons professores e bons alunos (ou ao menos, alunos que corram atrás do que querem).
Entretanto, com as mudanças radicais que as tecnologias trouxeram, em especial a internet, o papel do jornalista tem sofrido mudanças tão bruscas que poucos conseguem se dar conta do que está acontecendo e qual será o futuro da profissão. É aí que a técnica/estética entre em cena, porque pouco adianta um jornalista que saiba escrever bem se ele não sabe, sequer, a realidade midiática do momento. É como teimar em utilizar uma máquina de escrever na era digital.
O pensar sobre o saber fazer tem a capacidade de oferecer um olhar mais crítico e pontual sobre a realidade atual da profissão, permitindo que o profissional consiga se virar melhor, ofertando um leque de habilidades que normalmente um “não graduado” dificilmente terá: jornalista pode atuar como um relações públicas, fotógrafo, assessor de imprensa, dentre outras áreas.
Mas talvez o mais importante sobre a abordagem crítica do jornalismo nas faculdades seja o debate ético e moral da área. Não é de hoje que muitos pseudos jornalistas se aproveitam da não regularização da profissão no Brasil para extorquir dinheiro de anunciantes, sob a alegação: “se não me pagar, vou falar mal de você”. Alguns fazem descaradamente e outros mascaram esse tipo picaretagem, mas essa é uma realidade que denigre (e muito) a profissão, principalmente porque existem empresas consideradas sérias que adotam esse comportamento, no mínimo, questionável.
Formado, o jornalista pode ser cobrado por suas ações, porque parte-se do pressuposto de que ele tenha uma formação mínima da atuação ética da profissão, assim como um médico ou engenheiro. O problema é que no Brasil qualquer discussão sobre a regulamentação da profissão é sempre visto como a retomada da censura, o que impede a realização de um debate mais do que necessário sobre a quantidade de lixo e de irresponsabilidade que são produzidos diariamente pela nossa mídia.
O que eu digo, e repito em sala de aula, é que o jornalista não deve ter a visão sonhadora da profissão, como os filmes de Hollywood, com profissionais glamorosos e realizados. A realidade é bem diferente, principalmente no início de carreira, quando o foca (jornalista novato) rala como um condenado. Mas isso não quer dizer que eles devam ter uma visão menos apaixonante, porque é aí que reside a alma da profissão.
Douglas Edson Fernandes
dougedson@gmail.com
Professor de Comunicação Social da Faculdade Pitágoras – Campus Divinópolis
Jornalista, especialista em Imagens e Culturas Midiáticas (UFMG) e em Poder Legislativo e Políticas Públicas (ALMG)