OPINIÃO

*Por Amanda Quintiliano

O mercado nunca esteve preparado para mães. A estrutura patriarcal empurra para escanteio quem tenta, aos trancos e barracos, conciliar uma maternidade positiva com a carreira profissional.

Três a cada sete mulheres têm medo de serem demitidas por engravidarem. 56% de 10 mil brasileiras entrevistadas enxergam uma dificuldade maior no sucesso profissional com filhos.

23% das entrevistadas alteram os planos de ter filhos por motivos profissionais. Esses dados são da pesquisa “Carreira e Maternidade 2018”.

Embora, sejam de três anos atrás, eles ainda retratam uma realidade cruel e ainda mais prejudicada com a pandemia da COVID-19.

Conciliar maternidade e carreira não deveria ser tão tortuoso e nem amedrontar. Ser mãe nunca esteve liga a competência profissional. Não a torna menos capaz. Ao contrário, a maternidade expande, fortalece.

É bem possível ter sucesso em ambos, entretanto, essa estrutura de séculos fragiliza a mulher por despejar sobre ela um atarefamento e uma responsabilidade extra desigual, mesmo com pais bacanas que dividem tarefas.

O pensamento primitivo (Chorou, é a mãe. Está doente, é mãe. Passou mal na escola, é a mãe. É desobediente, má criação da mãe) tira mulheres do mercado de trabalho. É um sentimento dolorido de falha – imposto – quando não se pode acolher o filho por estar trabalhando.

“Que tipo de mãe eu sou”, recai sobre as mulheres.

A estrutura patriarcal deveria, com urgência – para anteontem – ser substituída por uma que garante a mulheres serem mães e profissionais sem culpa, assim como é para homens.

O projeto da vereadora de Divinópolis Lohanna França (Cidadania) é apenas um esboço de uma realidade sonhada. A instalação de creches no ambiente de trabalho ajudaria em vários aspectos: aproximação, flexibilidade.

Ele foi aprovado, precisa ser sancionado, mas daí sair do papel, claro que não por vontade dela, ainda é distante. Não tão quanto antes da aprovação. Quem nasçam mais propostas e leis como essa.

O mercado – geralmente formado e liderado por homens, brancos e de meia idade – precisa transformar. Precisa romper essas articulações patriarcais e machistas que afastam e forçam a mulher, a todo o momento, a escolher entre ser mãe ou profissional. Uma escolha – nunca imposta a homens.

Trata-se de uma organização que limita e impede as mulheres a serem fodas como mães e como profissionais.  Porque capazes nós somos. Sempre fomos.