A barba tem, sim, certos poderes. De intimidação a repugnação. Os bárbaros e os vikings adoravam exibi-la. Ela, a barba, era sinal de poder e virilidade.

 

 

 

 

 

rodrigo (1)

A barba já não é mais graúna como a de tempos atrás. Naquele período era vasta e bem fechada. A barba da cor da noite, se para alguns era sinal de desleixo, a outros intimidava.

A barba não era máscara e tampouco adereço. A barba também era ele. Compunha aquela personalidade ogra. O pelo na cara, daquela forma, indicava que aquele indivíduo era perigoso para os de cara lisa e de camisa engomada.

Por muito tempo foi assim: a barba despertou paixão e ódio. Uniu milhares em torno dele e fez moda. A barba e ele eram resistentes. Tiradentes também foi pintado de barba. Passou para a história dessa maneira e ela ajudou a fazer dele um mártir. O pretenso Jesus tupiniquim que deu a vida pela liberdade do seu povo.

A barba tem, sim, certos poderes. De intimidação a repugnação. Os bárbaros e os vikings adoravam exibi-la. Ela, a barba, era sinal de poder e virilidade.

Os anos se passaram e a barba, fechada e graúna, raleou. Praticamente deixa o rosto à mostra. Está falha e branca. Como tudo na vida tem um tempo, ela perdeu o seu vigor.

Diferente da década de 1970, quando esbanjava sedução, hoje a barba não intimida mais. Ela, e o indivíduo ogro, se igualaram a outros de cara lisa e barba menos farta.

É fato, ele fez legado e escreveu a sua história no transcorrer dos anos. Mas rala e branca a barba tirou dele um pouco da identidade dos tempos de agitação. Ela afinou e o discurso também. Se rendeu à mesmice que está por aí.

Cabeludos e barbudos fazem bem ao mundo. Gente – metaforizando – que se vê desprendida de padrões. Gente preocupada mais com o interior do que apenas com uma mera questão estética.

No Brasil de hoje, é necessária a ressurreição da barba graúna. Vozes de oposição à podridão que aí está. Se um ciclo se fecha é necessário que outro se abra, tendo como base os sucessos e falhas do anterior.

Este é o momento para que isso ocorra. Mas como esperar que surjam outros se quem está aí, na esfera do protagonismo, é massa de manobra? Difícil ter fé.

Mesmo que a barba tenha se modificado, ainda resta o fio do bigode. Antigamente homem honrado fazia-se valer por ele. Ninguém duvidava da palavra dita, do compromisso empenhado. O fio do bigode dispensava papeis e cartórios. Ele era o avalista de que tudo sairia como o combinado.

Os de barba e os de cara lisa deveriam fazer valer esse dito popular. Afinal, política serve é para honrar compromissos. Sobretudo junto aos mais desprotegidos.