Dia 7 de abril comemora-se o dia do jornalista. Na semana passada, as redes sociais (em especial o Facebook) fervilharam de mensagens parabenizando pela data especial. Cheguei a receber os parabéns, assim como parabenizei muitos. Porém eu lhe pergunto, fiel leitor, realmente temos muito o que comemorar diante da realidade que a profissão enfrenta e da conduta que a mídia adota?
Em seu livro, Pragmática do Jornalismo, Manuel Carlos Chaparro (um dos grandes nomes do estudo acadêmico do jornalismo) diz que “devemos ter uma visão menos sonhadora da profissão, mas não menos apaixonante”. O problema é que a paixão, se não for correspondida a tempo e à altura, esfria e morre. E não é difícil perceber uma certa decadência no jornalismo.
Um exemplo básico do que quero falar diz respeito ao uso de programas televisivos com viés mais populesco, no qual o apresentador (muitas vezes não-jornalista), procura transformar uma situação em polêmica, primeiro para se dizer crítico e esperto; e depois para aumentar sua audiência. Me desculpem os mais platônicos, mas a exceção são aqueles que querem melhorar a sociedade e a comunidade em que vivem. E estes, são poucos. Já me cansei de ver programas em que o apresentador sapateia sobre a “polêmica” do dia, atacando a vítima da vez, seja um político, uma instituição (prefeitura ou Polícia Militar, por exemplo) ou uma empresa. E digo vítima, porque em momento algum esse dito jornalista procura ouvir toda a história e fala o que quer, da maneira como quer, na ânsia de que o seu alvo de críticas peça direito de resposta, de certa forma, validando todos os seus ataques.
Um outro exemplo, fiel leitor? Sabe aquele jornal que você passa para ver a manchete diária da capa? Saiba que na maioria das vezes, quando a grande chamada do dia é uma denúncia contra alguma entidade (em especial o Governo, municipal, estadual ou federal), esse jornal não está procurando exercer nenhum tipo de atividade cívica. Muito pelo contrário. O que ele busca geralmente segue dois caminhos. O primeiro é tentar conquistar ou aumentar o recebimento de verbas por meio de críticas e matérias denunciando problemas. O segundo, é quando essas verbas são cortadas. Daí o jornal assume uma postura de oposição, atacando seu affaire mal sucedido no intuito de ver ali uma possibilidade de revanche (no fundo, no fundo, ele nada mais espera do que poder reatar o relacionamento, mas até que isso aconteça, ele vai medindo forças para mostrar quem pode mais).
Acredito que situações atuais icônicas, como o comportamento da Rede Globo diante das manifestações de 2013, ou as pautas políticas publicadas pelos nossos impressos nacionais (Veja, Folha, Estadão), que tem muito mais um viés de interesse político e particular do que realmente informar o leitor; são outros exemplos claros sobre o comportamento midiático e profissional que se adota hoje em dia.
Talvez eu possa estar traçando um cenário pessimista, mas como disse Chaparro, quem quer atuar na profissão não pode sonhar sobre o que seja ser jornalista. E esses exemplos que pintei logo acima existem em todos os lugares, em menor ou maior grau. É obrigação do jornalista ter a capacidade de perceber esse posicionamento que só transparece nas entrelinhas.
Nesse sentido, acredito que apesar desse cenário inóspito, há um luz no fim do túnel. A proposta atual de rever as diretrizes dos cursos de jornalismo no país inteiro é uma excelente oportunidade de debater sobre o que acontece no cenário da profissão e abre possibilidades para corrigir erros históricos que se arrastam há anos. Além disso, o fortalecimento das produções alternativas de informação, com o advento de recursos tecnológicos, como a internet, oferece novos canais de comunicação que passam a deslegitimar a mídia tradicional como único e verdadeiro canal de comunicação (que como exemplifiquei logo a cima, está longe de poder adotar esse título).
O que acredito (e espero), não só como jornalista formado, mas como professor de comunicação, é o aparecimento de mídia alternativa que informe sem ter como meta o lucro ou o favorecimento pessoal. Uma mídia que possa mostrar a realidade, sem que tenha segundas, terceiras ou quartas intenções. Posso estar sonhando acordado? Talvez no momento atual, mas o Brasil caminha em direção à realidade de outros países em que o jornalismo cívico, feito pelos próprios cidadãos, já é uma realidade. Agora, o que me recuso, é abandonar minha paixão pelo jornalismo, mesmo conhecendo sua triste realidade.