Conhecendo melhor a realidade política do país e passando por este momento épico, que é o carnaval, estive conversando com meu amigo Pedro, que me apresenta um texto que expressa o seu ponto de vista.

Jeann Teixeira 

Com Pedro Gontijo

Um dia após o carnaval: o consenso é geral de que este é de fato o dia em que começa o ano. É o início do ano que interessa à engrenagem do capital, que marca o início do ciclo de mais um fervor industrial e econômico de forma geral.

Quem marchava em sua jornada carnavalesca agora marcha em sua jornada de trabalho, marcha rumo à conquista diária, e assim sucessivamente. E não se ouve mais falar em carnaval, entretanto ele continua existindo; de bloco formado, perfil de gente fixo e com ritmo de samba incomensurável. E assim como há as escolas de Rio e São Paulo como eixos de potência carnavalesca – existem dois blocos fixos- de um carnaval sutil do qual podemos destacar: o Bloco Político e o Bloco Carnavalesco.

Uma vez que existem várias semelhanças entre estes blocos, cabe fazer algumas comparações: O carnavalesco usa as mesmas marchinhas, pois são tradicionais e as executam através dos mesmos instrumentos. O Bloco Político também, já que convence seu eleitorado com as mesmas inflamadas propostas e as corrompe através dos mesmos instrumentos, porém estes são públicos.

O carnavalesco nunca quer que o carnaval acabe pois é tempo de alegria, paz de espírito, refúgio de tempos sombrios. O Bloco Político também; ele quer seus candidatos no maior número de cargos e pelo maior tempo possível nos edens do poder, talvez pelos mesmos motivos daquele.

O carnavalesco, motivado pela euforia de se sentir livre no carnaval, extrapola as regras e se embebeda mais, se permite mais, e não se vê em tempo de se preocupar e cumprir obrigações e demandas. O Bloco Político também!  Exatamente pela mesma liberdade (no caso, a autoridade) extrapola a nossa Constituição Federal de 1988, e faz com que ela, uma das maiores conquistas do povo brasileiro, seja apenas uma conquista formal.

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E assim seguem as semelhanças dos dois blocos, porém há uma diferença de atribuição incontestável: o carnavalesco pode até extrapolar, mas depois se tranca o ano todo em sua rotina, em muitos casos se priva de muitas coisas para obter alguma economia, e enfim pode esbravejar por alguns dias a sua liberdade (ou sensação de liberdade); já o Bloco Político não. O tempo de estadia no poder seja em qualquer função ou cargo, não deveria ser para agir como folião e sim como o trabalhador age em sua jornada: sério, responsável, atento, pois em várias profissões basta um mínimo erro para colocar a vida de vários companheiros em risco. É tempo de vigília!

 Mas como o Bloco Político é um bloco, bloco bom que é, segue permanentemente em sua machinha, ultrapassada, sem sentido, mas nunca contestada pois,  é também uma tradição respeitada. E quando me pergunto como pode um bloco se manter por tanto tempo em uma mesma avenida de um mesmo carnaval, me vem o devaneio de que só seria possível tal façanha se: o Bloco Carnavalesco trabalhasse o ano todo nos galpões do Bloco Político, e ganhasse como recompensa alguns dias de férias chamados de Carnaval para exporem então suas fantasias e escolas de samba, que no caso seriam então secundárias. Mas esta possibilidade horripilante não seria possível, para o meu conforto. O povo não se submeteria a um contrato de cláusulas tão irrazoáveis e desproporcionais, além disso estamos em um Estado Democrático de Direito, com direitos e garantias fundamentais e direitos sociais elencados nos extensos róis dos artigos da nossa Constituição, portanto isto é impossível.

 Mas voltando à realidade: sim, isto é possível, e é uma mera comparação do que acontece com o povo brasileiro. Talvez um dia o povo se enjoe das machinhas e adote novos ritmos – talvez um dia o povo se canse desta política hierarquizada, elitizada e antiquada, e procure outras políticas, mais jovens e condizentes com os fundamentos e objetivos da Constituição Federal da terra do carnaval. Mas enquanto isso não acontece, comecemos então mais uma marcha, pois o grande carnaval começa agora, de novo.