Já faz quase dois anos que meu time vive um inferno astral. Com o rebaixamento para a série “B” em 2019, o Cruzeiro nunca mais foi o mesmo. Longe de conseguir o acesso à elite do futebol tupiniquim, o tetracampeão Brasileiro e hexacampeão da Copa do Brasil vive o pior momento de sua história.
O baixíssimo desempenho dentro de campo é mais um reflexo de administrações desastrosas e, segundo a Polícia Civil, há indícios fortíssimos de corrupção no trato de “bens” do clube. Sem apresentar um futebol digno, com salários atrasados, sem prestígio e contas no vermelho, o Cruzeiro vive de caridade. A situação é de desalento.
Mas, por mais que doa no torcedor, é só futebol. Duro mesmo é identificar essa mesma situação de frustração em milhares de brasileiros. Gente que se cansou de tentar. Sem perspectiva, não acreditam que esse jogo possa virar.
No Brasil, de acordo com o IBGE, existem hoje 14,4 milhões de desempregados. O número é recorde e agravado pela crise econômica e em consequência também da pandemia. Se não bastasse esse dado, o Banco Mundial divulgou na terça, dia 20, relatório apontando que a crise econômica em decorrência da pandemia vai impactar negativamente na questão do emprego no Brasil.
“No Brasil e no Equador, embora os trabalhadores com ensino superior não sofram os impactos de uma crise em termos salariais e sofram apenas impactos de curta duração em matéria de emprego, os efeitos sobre o emprego e os salários do trabalhador médio ainda perduram nove anos após o início da crise”, pontua o relatório.
Pior que esse desempenho, é o registro de que o número de desalentados no Brasil aumentou e hoje corresponde a 5,9 milhões de pessoas, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).
Os desalentados correspondem a um espectro variado de pessoas. Segundo a “Isto é Dinheiro”, a população desalentada é definida como aquela que está fora da força de trabalho por uma das seguintes razões: não conseguia trabalho, ou não tinha experiência, ou era muito jovem ou idosa.
Os desalentados formam um contingente de pessoas que desistiu de procurar emprego e que está sem expectativa e, portanto, sem esperança no futuro. Em boa parte, são pessoas que só subsistem. Seja por algum tipo de auxílio governamental, quando existe, ou pela caridade de terceiros.
Existem coisas que são fundamentais, e quando são arrancadas de nós a vida, lentamente, se esvai. Esse é o caso da esperança, na fé na mudança de rumo… de destino.
A população desalentada é suprimida dessa possibilidade. É estar numa espiral em queda livre sem perspectiva de novos horizontes. O cansaço do tentar sem recompensa é algo doloroso.
Por menor que seja tem que haver algum tipo de conquista. É ela a fagulha para acender a pessoa novamente e estimular o tentar, quantas vezes forem necessárias.
O Brasil dos desalentados além de ser pobre é deprimido. Não se sente estimulado, acomoda.
Para essas pessoas o trabalho não é o meio só de gerar renda. Para quem está numa situação de desalento o trabalho, mais do que nunca, é a forma mais rápida da retomada da dignidade e da autoestima. Por essa razão, a retomada da geração de empregos deve estar na ordem do dia de qualquer governante em todas as esferas do poder.
Afinal de contas, estar produtivo é uma ótima forma de demonstrar que se está vivo. Quem vive sonha, quem sonha ainda tem esperança e põe o time em campo.
Por mais difícil que o jogo possa parecer.