Antes de ser negra, Karol é uma pessoa. Como eu e você, tem defeitos. E não é a cor da pele que os acentuam ou os determinam. Pelo menos não deveria ser assim, mas num país escravocrata, como foi o nosso, essa questão tem peso.
Pela origem e história de submissão, sempre se imaginou negros em “irmandades” para fortalecer a luta e amenizar a dor. Mas somos, também, indivíduos de muitas vozes e muitos quereres.
Atos de covardia ocorrem de pessoa para pessoa e entre o povo negro isso acontece, desde que o mundo é mundo. E, nesse caso, nunca foi a cor da pele o motivo para os ataques, mas sim exercício de força e dominância por terras e riquezas. No fim, o poder é o que conta. Em outros povos, a mesma coisa se viu ao longo dos séculos.
Quando uma fração de tudo isso é exposta em rede nacional, ganha uma proporção gigantesca e choca. Mas a maldade do outro é, em alguma proporção, a minha maldade.
Longe das câmeras e de milhares de olhares, cultivamos nossos próprios demônios, ou, pior, criamos condições para que uma pessoa crie os dela e depois nos fira de alguma forma.
Muitos dos que criticam Karol, reproduzem Karol. Num jogo diário de dominância e exercício de poder.
Uma das principais características do altruísta é a compaixão e ela vai na direção contrária da crítica, uma vez que procura entender o outro. O porquê dos seus motivos e atos. Quem busca entender salva ou evita a repetição do erro.
Por receio, proteção, fraqueza ou medo, criamos personagens para esconder o “eu” que somos. Personagens, como você sabe, não são reais e isso, em alguma medida, é muito doloroso.
Espetacularizar nossas mazelas é se contentar com o que é visto só pela superfície. Isso, por si só, não basta. Somos densos. Eu, você e até mesmo a Karol.
P.S.: Não assisto, portanto, não vi as “maldades”. Ouvi e li algumas coisas. Quis, apenas, propor outro olhar. Respeitando, é claro, eventuais opiniões contrárias.