Rodrigo Dias
Lá pelas nove acordou. Já era dia e o sol, no alto, ardia. Estava com a cara amarrotada e as ideias embaçadas pelo sono que persistia. Não tinha mais tempo pra si naquele templo escuro e silencioso. Era hora de levantar, sair do quarto, e ser do mundo.
Nasceu dele, mas agora, com os compromissos da vida, é dos outros. Das circunstâncias que o circundam. O tempo não urge. Ele ruge e põe para correr. O medo de ser devorado por ele nos faz valente, ou melhor, polivalente.
Sociedade moderna que sustenta velhos vícios. Escraviza o homem em suas teias cotidianas. Há prazeres sim, e muitos afazeres. Ele, o tempo, encurtou. Ano passa em meses, meses em dias e dias em horas.
Se não estiver precavido, o instantâneo, num instante, dissolve o homem perdido no tempo. Embaralha-o, corta-o e o deixa fora do monte. Fica fora do jogo.
De nada valerá o bom naipe estando fora do baralho. À disposição da mão que joga.
Sociedade de formigas e seu vai e vem. Tudo orquestrado, compartimentalizado. Preso na rotina que sustenta a vida, sem uma razão maior de (o) ser.
Mas há razão? Vai ver que o desconforto é invenção de quem é cigarra. Gente que quer levar a vida na flauta. Que chama a atenção pelo canto que é grito… Barulho e só.
Mas o tempo não quer saber dessas coisas filosóficas. Ele é automático, mecânico. Relógio preciso prefere quem é perfeito em sua concisão. Quem não se perde no invisível que está além do tempo.
Já passa das 23 horas. Não tem estrelas nem lua. Nessas horas o céu do templo escuro se ilumina de pensamento. Noite em claro. O tempo não desliga o homem que anseia pela aurora.
Outro dia para terminar o que não ficou pronto. Para finalizar coisas de ontem que são de outrem também.
Solto em armadilha, seja de noite ou de dia (sic.).