Oito detentos atuam no cultivo de alface, almeirão, couve, repolho e acelga, e toda a produção semanal, de cerca de 60 quilos, é doada

No Complexo Penitenciário Doutor Pio Canedo, em Pará de Minas, as ações de ressocialização extrapolam os muros. O trabalho realizado na horta do presídio atende a uma unidade de acolhimento e reabilitação de dependentes químicos do município. Oito detentos atuam no cultivo de alface, almeirão, couve, repolho e acelga, e toda a produção semanal, de cerca de 60 quilos, é doada para a Casa de Recuperação Divina Misericórdia, também conhecida como Fazendinha. 

Para o diretor-geral da penitenciária, Marcelo Barbosa, além de contribuir para ressocialização dos detentos, dando a eles a oportunidade de aprender um ofício, a atividade tem também grande valor social e humano.

“A gente consegue ver a satisfação dos presos que trabalham no cultivo dos alimentos. Além de se sentirem mais úteis e ocuparem o tempo com algo saudável, o resultado ajuda quem está precisando e traz uma motivação maior a eles”, conta. 

Wagner Gomes Oliveira trabalha na horta há nove meses e acredita que a experiência pode ser útil no futuro.

“Estou tentando aproveitar ao máximo as oportunidades de aprendizado e me aprimorando profissionalmente para que tenha mais chances lá fora”, diz.

“Esse trabalho na horta também faz a gente se sentir útil para a sociedade. Saber que estamos contribuindo para uma casa tão importante como a Fazendinha deixa a gente cheio de orgulho”. 

Há quatro meses trabalhando na horta, Alisson dos Anjos relata que sente que sua dívida com a sociedade diminui em um trabalho que contribui para o bem de outras pessoas.

“A gente sente que ganha mais confiança e respeito com o nosso trabalho. As pessoas veem que estamos nos esforçando para ser alguém melhor e mais útil, e isso nos motiva muito a seguir em um caminho longe da criminalidade”, afirma. 

Atividade terapêutica

Quem coordena os trabalhos na horta da Pio Canedo é o policial penal Moisés Soares, que, entre idas e vindas, está há mais de 16 anos atuando no local. Para ele, a atividade é terapêutica e contribui não só para o aprendizado de um ofício, mas também para manutenção da saúde mental daqueles que cultivam as hortaliças.

“Fui criado no campo e sei como é bom este contato com a terra. Vejo que isso ajuda muito no cumprimento da pena dos presos. Mesmo aqueles que nunca tiveram alguma experiência se esforçam e tentam fazer cada dia melhor”, diz.

De acordo com o coordenador da Casa de Recuperação Divina Misericórdia, Cesar Alves, as doações vindas do complexo penitenciário contribuem bastante para a manutenção das atividades.

“Aqui a gente acolhe todos que chegam e procuramos dar oportunidade para recuperação e ressocialização, inclusive de egressos do sistema prisional que recaem no vício das drogas ou do álcool. As doações são importantes para que a gente consiga manter uma alimentação saudável e variada para eles”, explica.

Superação

Marcos Ferreira é policial penal concursado na unidade de Pará de Minas desde 2013, mas, antes disso, em 2008, conheceu de perto os trabalhos realizados na Fazendinha. Antes de conseguir passar no concurso, ele enfrentou momentos difíceis e acabou precisando ser acolhido na casa de recuperação para se livrar do vício em drogas e álcool. 

Para Ferreira, o local tem um papel fundamental na vida de quem busca uma segunda chance.

“O trabalho executado na Fazendinha é muito importante no processo de reabilitação dos que estão buscando sair do vício. Eu, que já precisei ser auxiliado, sei o quanto as doações aqui da unidade significam para eles”, ressalta. 

Em sua trajetória na Fazendinha, depois de recuperado, o policial penal passou a trabalhar como voluntário em vários setores e é conselheiro fiscal do espaço.

“Sou muito grato por tudo que conquistei depois de ter passado por lá. Se hoje posso servir de exemplo e motivar outras pessoas, devo muito àqueles que um dia acreditaram em mim e no poder da mudança”.