(Foto Ilustrativa)

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A chuva batia violentamente na janela. Algumas goteiras aparadas por panelas e panos pelo chão e uma lata de óleo cheia de saco de farelo pegando fogo para espantar os insetos.

 

Já era noite e dois lampiões iluminavam a casa de três cômodos, enquanto Martinha ajeitava novamente o cabelo de Lílian.

 

– Tá calor, mãe – implorava a menina.

 

– Você não vai tirar o vestido novo! – gritava.

 

Bem, não era novo, era presente de aniversário de uma vizinha, mas Martinha embrulhou com uma sacola do supermercado e entregou junto com uma boneca de armazém.

 

Na mesa improvisada de tijolos havia sobra de frango e arroz. Em cima do televisor, uma sacolinha com pirulito e balas para sobremesa. No canto da sala, um galho seco e amarelado dentro de um vestido e uma peruca de boneca fincado em uma lata de óleo cheia de areia, fazia as vezes de Cinderela, a personagem preferida da criança.

 

– Mãe, ele vem esse ano?

 

Não respondeu. Só um sorriso amarelo, enquanto preparava o prato de comida para a menina.

 

Juvenal havia abandonado a família há muito tempo. Emprego na capital; Várias promessas e dois telefonemas meses depois. Foi só. Lílian, no auge de seus cinco anos não se lembrava do rosto do pai, era muito nova quando o viu pela última vez saindo pela porta dos fundos com uma pequena mala na mão.

 

– Traga bala, papai! – pediu a menina, ainda tentando se equilibrar nas pequenas pernas, segurando no sofá.

 

Juvenal não respondeu, apenas olhou fixamente a filha, virou-se para esconder as lágrimas e saiu deixando a porta aberta.

 

Martinha nunca mais pode sair para trabalhar por aquela porta, se a menina visse, desabava em choro por achar que ela também não mais voltaria.

 

– Fecha a porta, menina! Vai molhar toda a casa – gritava.

 

– Mas se não tiver aberta, como ele vai entrar? – murmurava a criança, quase chorando.

 

Novamente, não respondia.

 

O jantar era silencioso e pouco tempo depois, a pequena Lílian caiu no sono segurando a boneca, sentada do lado da porta. Martinha ficava sentada em um pequeno banquinho ao lado do fogão, cabeça entre as pernas com uma poça de lágrimas entre os pés.