Rodrigo Dias
Para o governo indonésio, o preço de uma vida não deve ser maior do que o de centenas ou até milhares salvas. Esta é uma das mensagens dadas com a execução do brasileiro Marco Archer, que tentou entrar naquele país com 13 quilos de cocaína.
O governo brasileiro interpelou, mas em vão. Decisão tomada e pena cumprida. Morte por pelotão de fuzilamento. Para o governo de lá, um procedimento normal dado aos que insistem em afrontar a lei.
De cá, fica o amargo da pena. Afinal, a quantidade de drogas transportada por Archer nem era tão grande e, portanto, nem causaria tantos danos, não justificando o tamanho da pena aplicada. A capital.
Será o governo indonésio severo e brutal demais? Ou seria, por exemplo, o Brasil condescendente demais com os crimes relacionados ao tráfico de drogas que ocorrem país afora?
Com base nos seus valores morais, culturais e sociais cada povo vai trilhando, no caminhar da sua evolução enquanto nação, os caminhos para combater esse mal que é uma das maiores doenças sociais do século.
Existem tratados internacionais que salvaguardam os direitos ditos humanitários. Infringi-los é zombar do que o mundo estabeleceu como convenção para a boa convivência entre os povos.
No entanto, cada nação é soberana para criar suas leis, normas e regras. E por mais cruel que possa parecer, o que o governo indonésio quis foi preservar o seu povo.
De outra forma, o argumento expresso pela decisão pela pena capital em desfavor do brasileiro segue o mesmo argumento presente em políticas como a liberação da maconha e da redução de danos.
Para muitos, aqui no Brasil, estas iniciativas são vistas com simpatia e como alternativa no combate às drogas. Para o governo indonésio, talvez, representassem o total desrespeito à população que ficaria exposta aos riscos.
O fato é que quem opta, de forma consciente, por traficar sabe dos riscos. Principalmente num país em que a tolerância é zero para esse tipo de crime. Se a aplicação da pena capital resolve o problema do tráfico na Indonésia? Acredito que não. Mas talvez sirva para reduzir a incidência do tráfico vindo dos países onde pessoas já foram condenadas e executadas.
Por aqui, os traficantes esnobam da lei. Comandam mesmo da cadeia seus impérios e possuem ramificações importantes da sua atividade dentro da polícia, entre celebridades e até mesmo no cenário político.
Em terras tupiniquins o crime é organizado e traficante de renome quando morre vira lenda ou até mesmo se torna um pop star em vida.
A falta de punição assertiva encoraja outros que querem viver desse meio. E assim o tráfico tira a vida de milhares de pessoas, seja pelo vício ou como forma de manter os negócios funcionando.
Por aqui a sociedade paga a pena capital instituída pelo crime organizado do tráfico há muito tempo. E pouco de eficaz tem sido feito para alterar esse quadro.
Não há apelação.