Por Rodrigo Dias
No cotidiano nosso das delações, uma constatação: a dubiedade da personalidade de algumas pessoas. É fato que, mediante as situações que nos apresentam, exercemos sobre elas “eus” diferentes.
Por vezes nos mostramos mais descolados, reflexivos, precavidos entre outros tipos de “eus”. Mas preserva-se neles o nosso caráter. O que nos caracteriza nos personaliza.
No entanto, os últimos fatos políticos advindos das divulgações de gravações, oportunas, revelam que determinadas pessoas envolvidas nelas apresentam uma dualidade de caráter.
Fora do ambiente social, das relações com o público, em que parece ser necessário se portar de uma forma austera, digna e tal, a máscara é posta de lado e o traço mais marcante de uma personalidade vil é revelado. Espanto nosso.
Fatos assim nos chamam a atenção sobre a criação de personagens que determinadas figuras, públicas ou não, lançam mão para atrair ou para serem mais palatáveis a certo público.
Esse tipo de artifício não é característica só da política. A construção de personagens é comum e está presente no show business e até mesmo nas religiões.
Além de ter esse apelo de sedução, os personagens criados existem para esconder fraquezas ou para demonstrar uma força que não se tem. Algumas pessoas gritam, falam alto e intimidam outras com retóricas agressivas. Até ganham algum espaço, entre os incautos, mas na verdade são tão frágeis que se escondem por trás dos berros, da rispidez.
Tenho um amigo que sempre desconfia daquelas pessoas que sorriem e abraçam demais as outras; das que falam em Deus gratuitamente e da caridade sem exercê-la e de gente que conversa sem olhar nos olhos.
Na avaliação dele, parece que há um vazio nos gestos e na fala. Um frio no não olhar. Gente que se escapa e que é assim não pelo bem querer ou timidez, mas por se esconder delas e de nós.
Aquela história de “médico e louco, todo mundo tem um pouco” parece ser maior. Algumas pessoas criam uma ficção de si tão bem feita, que acham ser verdadeiro o que se é de mentira.
Por melhor que possa parecer, um dia a máscara cai e não será possível enganar. O revelado é pego em flagrante e não há humilhação maior do que aquela que mostra a verdade. Personagem desnudado.
Para ser bem clichê, mas bem atual para esse tempo:
As aparências enganam e muito.