Não é sobre esquerda e direita, muitos menos sobre Lula X Bolsonaro; Ninguém é obrigado a escolher um lado, principalmente em guerras que nem compreendemos plenamente
Ser ponderado virou quase um crime em meio a polarização política, social e ideológica. Ela tem forçado as pessoas a se posicionarem como se fosse obrigação tomar um lado, como se fôssemos intimados a escolher um lado em uma guerra, ou guerras, que, na verdade, nem compreendemos plenamente.
A recente escalada de tensões entre Irã e Israel é um exemplo claro disso. Que as redes sociais parece ter deixado muita gente menos lúcida, já sabemos. Contudo, diante desse cenário, a situação de aguça. Nas redes sociais, nos grupos de WhatsApp, sequestram o debate pela lógica binária da política brasileira: esquerda ou direita, Lula ou Bolsonaro. Chato, irracional e descessário.
Falta compreender o óbvio: o Oriente Médio não cabe nesse rótulo. Não podemos reduzir uma disputa geopolítica complexa, alimentada por décadas de conflitos territoriais, religiosos e interesses econômicos, a esquerda ou direita. Isso não nos torna mais inteligentes, pelo contrário, é imaturo e perigoso.
Ninguém tem a obrigação moral de tomar partido. Ninguém é cúmplice por considerar esse ou qualquer outro conflito insano. Talvez se torne cúmplice ao se posicionar indubitavelmente. Não se posicionar dentro de caixas ideológicas não nos torna indiferentes. Talvez, isso nos mostre mais conscientes para uma análise crítica global. Isso, sem a necessidade de defender A ou B.
Há vidas em jogo
Há vidas em jogo. Não podemos reduzir uma guerra de poder a uma guerra ideológica.
O conflito recente com pretexto do programa nuclear iraniano e na resolução aprovada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) é mais um capítulo dessa tragédia geopolítica. Conforme o texto aprovado, o Irã não cumpriu com suas obrigações de salvaguardas que permitem à agência inspecionar as instalações para garantir que não estão sendo desenvolvidas armas atômicas.
Vejamos, de um lado temos Israel. O país enfrenta ameaças reais, ao mesmo tempo que ocupa ilegalmente territórios palestinos, assim como recebe acusações de cometer genocídio na Faixa de Gaza. Já o Irã, não fica por meno. Por décadas financiou grupos armados contrários à existência do Estado israelense. Para isso, ampliou a esfera de influência com discursos revestidos de religião.
Polarização x Guerra
Ao extremistas que não enxergam além do próprio umbigo, a ideologia cega, seja religiosa, política ou militar, tem feito vítimas. Ninguém é obrigado a tomar partido num conflito em que inocentes perdem a vida, e não só no sentido de morte, mas de vivência. Perdem casas, famílias, dignidade e esperança.
Enquanto isso, líderes extremistas, como Donald Trump que dá as caras, mas outros que operam nos bastidores, seguem fazendo de tudo isso um “circo de horrores”, colorido com sangue. Manipulam a opinião pública em prol de projetos de poder.
São esses líderes que alimentam discursos que dividem ao invés de unir. No Brasil, tudo virou sobre Lula e Bolsonaro, como se o mundo se resumisse a essa dicotomia.
O momento exige para além da empatia – muitas vezes submersa a ideológia, uma análise crítica. E muita coragem para não se deixar manipular nesse papinho de gente superficial e líderes medíocres. Porque líder que coloca povo contra povo, não tem outro nome.
Eu, particularmente, sempre defenderei o diálogo como a forma de contornar até os conflitos mais iminentes. Quando as decisões estão nas mãos de extremistas que usam a religião para recrutar exércitos, a única resistência possível é se recusar a entrar nesse jogo.
Repita: não sou obrigado a escolher entre A ou B, ainda mais em um cenário onde a vida humana é reduzida a dano colateral.