A gasolina e a energia elétrica estão caras, chiamos, mas pagamos pelo aumento da mesma forma. É assim em muitos outros exemplos. Quem detém o poder de impor e retirar, no seu cálculo, já conta com a nossa insatisfação momentânea, pois sabe que lá na frente o que fora traçado será cumprido.

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Rodrigo Dias

Chega esta época do ano e a discussão é uma só: para que esse tal “horário de verão”? Um número razoável de pessoas entende que esta é uma atitude que gera uma economia medíocre, e ainda tira uma preciosa hora do sono matinal.

Não sou radical. Estou na ala dos que são simpáticos a esta mudança no horário. Gosto dos dias longos e claros. E mesmo tendo que acordar cedo, como a maior dos brasileiros trabalhadores, não reclamo.

É bem verdade que não estou entre a maioria, visto que o horário de verão é repugnado sempre. Acredito que não seja por ele só, mas por ser algo imposto e que altera uma rotina estabelecida ao longo do ano.

Imposição é um ato que não agrada. E para piorar, considerando o horário de verão como exemplo, ela vem acompanhada de outro ato que é também questionável: o da retirada, no caso, de uma hora de sono.

Ninguém gosta de perder, principalmente quando não é consultado e sim obrigado a fazer algo. Talvez venha daí, até de maneira inconsciente, a principal rejeição a esse horário.

Então o problema não é o horário de verão, mas os atos que levam até ele. Se assim for, tudo que representa imposição e retirada era para ser igualmente questionável nas rodas de conversa e nem sempre é assim.

Não é assim porque a gente se acomoda e conforma. Até há em algum momento alguma reclamação, mas logo todo mundo se dá por vencido e o que é imposto ou retirado vinga.

A gasolina e a energia elétrica estão caras, chiamos, mas pagamos pelo aumento da mesma forma. É assim em muitos outros exemplos. Quem detém o poder de impor e retirar, no seu cálculo, já conta com a nossa insatisfação momentânea, pois sabe que lá na frente o que fora traçado será cumprido.

O horário de verão, por mais que impacte na nossa vida, é o menor dos problemas quando estão em análise os atos que os sustentam. Mesmo que haja uma pretensa justificativa de geração de economia.

É bem verdade que existe o poder delegado. Aquele que damos a alguém para nos representar e tomar as decisões necessárias para que todos, em tese, tenham uma vida digna. O poder delegado, num plano de poder institucional, é dado por meio do voto. Da nossa escolha de quem vai nos representar.

Mas casos como os Cunha da vida mostram que não estamos fazendo bem esse papel, e é este tipo de gente – sem escrúpulos e capaz de mentir e chantagear na maior cara dura – é que está há anos no Congresso fazendo das suas. Hoje estão clareados pelos holofotes, mas seres rastejantes e viscosos como o Cunha gostam de operar é na sombra. Escondidos do nosso olhar fazem seus esquemas, dilapidam o país e fazem a sua fortuna e de quem lhe é próximo.

Tão pior como a imposição e a retirada é a nossa acomodação. Entender que este país não tem jeito e que a corrupção é um mal necessário. Um adereço da política brasileira que descende dos velhos coronéis e seus votos de cabresto.

Diante de tudo isso, culpar o horário de verão é pensar miúdo. Às vezes, com os dias mais longos desta época, seja possível clarear melhor as idéias. Perceber o que há por detrás dos atos.