Amanda Quintiliano
Repetindo uma carta aberta assinada pelo The New York Times, “nossos leitores não nos procuram apenas por notícias e entretenimento. Eles querem algo para solucionar suas questões diárias”.
Desde 2013 o Portal Centro-Oeste vem com este propósito. Carregamos com uma das missões a produção de conteúdo e não simplesmente a reprodução de fatos cotidianos. Os internautas querem mais e merecem mais do que simples sinopse policial.
Em tempos de reinvenção dos modelos existentes, nunca foi tão importante pensar em como apresentar reportagens na internet, evitando simplesmente importar a linguagem de outros meios.
Foi a partir daí, após inovarmos em diferente ferramentas entre veículos locais e regionais, que demos mais um passo. O webdocumentário será um passo pioneiro, nunca feito por nenhum meio de comunicação da região voltado exclusivamente para internet. Pelo menos, não até agora.
Em um formato experimental, o webdocumentário irá trabalhar diversas linguagens possibilitadas pelo universo da internet, com vídeo, texto, fotografia e hiperlinks. Tudo para uma narrativa coesa.
O tema
O tema do primeiro projeto é um dos que mais chamam a atenção na cidade. Polo regional, com mais de 230 mil habitantes, a cidade ainda enfrenta velhos problemas estruturantes. Contaremos a história, em quatro episódios, publicados a cada 15 dias, de quem vivem em bairros com mais de 30 anos sem rede de esgoto e calçamento.
Ouviremos pessoas simples que retratam bem a realidade que ultrapassam os quarteirões com ruas largas do centro de Divinópolis.
Queremos provocar reflexão. Ser a voz de quem há décadas enfrenta dificuldade com coleta de lixo. Queremos dar voz a quem não sai de casa em dias de chuva, pois as ruas ficam intransitáveis.
Este é um passo para o jornalismo da transformação.
Del Rey
Nosso primeiro destino foi o bairro Del Rey. Localizado na região nordeste de Divinópolis o acesso não é tão difícil. Para quem vem pelo centro, basta ir pelo bairro Niterói até a Avenida Magalhães Pinto. De lá, passa pelo Halim Souki e segue alguns quarteirões. O problema está nas ruas sem calçamento, no esgoto a céu aberto, nos lixos espalhados por lotes.
Há moradores como o Sr. Miguel e o Sr. Verso que vivem há quase três décadas sem qualquer infraestrutura. Eles foram os primeiros a se mudarem para o bairro. Construíram igrejas, abriram ruas e fizeram a única pinguela que facilita o acesso até a linha de ônibus.
Tem também a Adriana que nasceu no Del Rey. Hoje com dois filhos, um de 3 e outro de 12 anos, vê a história e as dificuldades enfrentadas por ela se repetirem. Um dos filhos tem epilepsia.
“Quando chove não tem como sair de casa. Se ele tem alguma crise e está chovendo a ambulância não consegue chegar aqui”, conta.
Histórias como as deles são várias. Apesar de assistirem e sentirem na pele o descaso por anos, eles ainda carregam a esperança. O Sr. João Carlos tem 53 anos. Está se aposentando e por ali espera viver ainda por muitos anos. O que ele pede para isso é pouco: o básico: calçamento, rede de esgoto e coleta de lixo.
Prefeitura
O poder público parece ainda não ter entendido a urgência dos moradores. Sem condição financeira de arcar com a infraestrutura básica eles fazem “vaquinhas” para medidas paliativas, como uma pinguela. Mesmo assim, a prefeitura sugere parcerias, onde, ainda sim, o custo, nem sempre cabe no bolso de quem enfrenta o descaso.
Em nota, a Assessoria de Comunicação informou que a “Prefeitura de Divinópolis disponibiliza parceira para realizar a pavimentação em vários bairros. Os moradores do Del Rei precisam procurar a Diretoria de Relações Institucionais e Comunitárias da Prefeitura ou o Setor de Calçamento da Secretaria de Operações Urbanas para saber sobre o projeto. Outras reivindicações, a Diretoria de Relações Institucionais e Comunitárias está disponível para recebê-las no Centro Administrativo de 12h às 18h”.