Em pleno ano de olimpíada no Brasil, ter uma proliferação do Aedes aegypti é uma zica danada. Não serão a violência, a economia ou até mesmo a combalida política brasileira os fatores que podem tirar o brilho dos jogos, mas, sim, um mosquito.

 

rodrigo (1)

No mundo todo, o dito indivíduo médio não está nem aí para nossas questões domésticas que ocupam o noticiário local. Lava Jato, PT e PSDB não interessam ao mundo, mas sim o Aedes e suas doenças e, em especial, a zika.

Diferente da Europa, por exemplo, o Aedes encontrou em terras tupiniquins as condições propícias para se desenvolver e se expandir de norte a sul e de leste a oeste. Além das doenças e da nossa preocupação, o Aedes revela outras questões menos nobres na sociedade brasileira.

A primeira delas é a nossa condição de subdesenvolvidos, mesmo que existam bolsões de desenvolvimento nos níveis do primeiro mundo, mas estes ainda não são a regra geral do país. Outra revelação, intimamente ligada com a primeira, diz respeito à educação e senso de coletividade.

Descartadas as condições climáticas do Brasil, o Aedes aegypti se desenvolve no nível atual por aqui porque nossa capacidade de mobilização e compromisso não têm sido suficientes. Em outras palavras: não conseguimos cuidar devidamente dos nossos quintais e casas e, ainda, exigimos que o governo e o outro façam sua parte. Afinal, a culpa da incidência das doenças provocadas pelo Aedes é deles e não “minha”.

Boa parte de nós, além de cultivar o mosquito, cultiva os maus hábitos que lhe dão vida. Materiais jogados nos lotes indiscriminadamente fazem parte do nosso cenário urbano e até mesmo rural. Se em outros povos o clima ajuda para a não proliferação do mosquito, é bem verdade também que a educação e o senso de comunidade auxiliam a combater com mais eficácia o Aedes. Se este fosse o caso.

Da mesma forma que é inadmissível – com o grau de informação e formação que há hoje – conceber que em pleno século XXI se mate o próximo em nome de Deus com atentados bárbaros para este fim; é também inadmissível acreditar que doenças como a dengue, chikungunya e zika, nos níveis que se vê hoje, acometam milhares de pessoas, inclusive levando à morte, por mera falta de educação e responsabilidade consigo e com o outro.

O povo, que não está preparado o suficiente para combater um mosquito e seus males, com certeza terá dificuldades de entender e atacar outros problemas igualmente sérios que comprometem a política, a economia e o exercício de direitos no Brasil.

Combater o Aedes aegypti é, primeiro, combater a nós mesmos naquilo que há de negativo e que nos impede de mover em prol dos interesses da coletividade. Este desafio é maior do que superar qualquer crise que esteja por aí.

Os jogos olímpicos estão chegando e o Brasil ficará exposto aos olhos do mundo. A organização deste evento será questionada, mas nada será mais vigiado pelos olhos do mundo do que o combate ao tal mosquito. Os milhões investidos nos jogos de nada valerão se o Aedes ascender até lá e o surto de zika, principalmente, não for contido de forma eficiente.

Será o Brasil um dos principais responsáveis pelo surgimento de uma geração de milhares de bebês com microcefalia? Doença que vem sendo associada ao Aedes. É essa uma das perguntas que várias autoridades políticas e sanitárias do mundo todo fazem.

Cabe saber se estaremos desenvolvidos o suficiente para dar a resposta pertinente a ela: Que somos, sim, um povo educado em toda a plenitude da definição desta palavra.