Coluna  - Antonio Andrade - Portal Centro-Oeste

 

Não era uma moça de família. Correu entre as bicicletas dos meninos de vestido curto, nadou no córrego sujo, beijou o primo e bateu no irmão. A única loira da esquina não era exatamente um exemplo de filha; gritou com o pai, fumou o cigarro do tio, chegou de madrugada em dias de semana e bebeu, bebeu muito. Ela quis o Pedro, Júlio, Luciano, Flavinho, Lucas e Arthur – e acabou tendo mesmo foi o Henrique – quando queria. E quis muito, não todos os dias. Uma semana sim, outra talvez, nas segundas sempre, mas nos sábados nunca. Sete anos de Henrique.

 

Não era uma moça de família. Mas o que é uma moça de família? A cidade é pequena, com pouca TV e o circo nunca vinha. A loira é bonita e gosta de chamar atenção. Os coroinhas comentavam com o Padre, que comentava com os ministros.

 

– Fiquem longe daquela menina! – diziam aos filhos.

 

Mas ela era muito bonita.

 

O padre queria, os coroinhas queriam, os ministros sonhavam e o Henrique, bem o Henrique ficava sonhando com a segunda-feira.