Morri. E juro que por essa eu não esperava, não naquela tarde, não com aquela idade. Aquele foi o meu melhor ano, de longe, as coisas realmente estavam dando certo. Negócios iam bem, minha filha, enfim, começava a demonstrar um pouco de afeição, minha mulher parou com aquela conversa de separação e eu tinha comprado aquela casa pertinho do shopping – uma casa – ah, famílias não podem se prender em apartamentos, o cheiro de terra molhada pelos regadores, o balanço entre a goiabeira e a jabuticabeira realmente eram coisas que me faziam acordar mais cedo.
Tinha algum dinheiro no banco. Podia viajar, se quisesse, ou comprar um carro novo para a mulher – ela estava louca com o HB20 – bem, ficou guardado.
A menina estava estudando em tempo integral na melhor escola. Do alto de seus 13 anos, pela maneira como encarava os estudos, o cursinho de inglês, francês e o piano, seria uma grande profissional no que quisesse ser.
– Medicina ou direito?
– Comerciante – gritava. Ela tinha em mente que queria abrir seu próprio negócio. Como o pai, ela não gostava de ser mandada.
– Junia, então você terá vários patrões: os clientes – eu dizia, tentando a puxar para um abraço, mas ela sempre dava de ombros.
Não era a filha que eu pensei que teria, mas claro, a amava, até porque, nem de longe eu tinha a mulher que queria.
Tatiana era a mais cobiçada, a mais bonita, a de melhor presença – como não querer uma Helena daquela.
– Leda e Zeus capricharam! – eu brincava, mas ela dava um meio sorriso, me encostava com dois dedos e saia – não gostava de mim.
Ninguém lamentou, uns se cutucavam, olhavam no relógio, riam em microexpressões e distribuíam falsos abraços.
– Ele está em um lugar melhor! – dizia Joílson, meu sócio. O fato é que Junia tinha aula de música depois do almoço, a mulher não parava de olhar para o amante do outro lado da sala e os vizinhos foram em consideração.
– Era um homem tão bom – balbuciou com dificuldade uma desconhecida.
E eu permaneci ali, imóvel, a ver aquele teatro improvisado.