Esse é um dos bordões clássicos da publicidade e propaganda, muitas vezes encontrado de braços dados com outra frase famosa: “falem mal mas falem de mim”. No universo da visibilidade, nada mais comum do que procurar ganhar o máximo de destaque; se possível, positivo. Porém, a ideia de ser visto vai além da publicidade propriamente dita. No campo da comunicação, esse “buraco é mais em baixo”.
Há alguns anos, quando trabalhei na hoje extinta sucursal do jornal Hoje em Dia aqui em Divinópolis, ouvi um outro bordão interessante: “no jornalismo, você é observado 24 horas”. Fiquei pensando um tempo sobre isso e cada vez mais percebo que o sujeito estava mais do que certo nessa afirmação. Talvez nas outras profissões não seja lá muito diferente, mas ouso dizer que no jornalismo o profissional (principalmente o bom profissional) é rastreado bem mais de perto e com muito mais constância.
A grande questão é que há uma deficiência enorme de mão de obra de qualidade na área do jornalismo, seja impresso, tv, rádio ou web. Existem, sim, milhares de profissionais no mercado, mas são poucos aqueles que tem capacidade (ou vontade) de desenvolver um bom trabalho. Muitas vezes, por causa dos obstáculos de início de carreira, não são poucos os que acabam fazendo seus trabalhos “nas coxas”, acreditando que devem ser produtivos de acordo com o valor do seu salário mensal.
Diante desse cenário, os possíveis futuros contratantes acabam por selecionar aqueles profissionais que demonstram mais competência e passam a vigiá-los, aguardando o instante decisivo para realizar uma oferta pelo seu “passe”. Exemplo claro são os jornalistas que migram para a área da assessoria de imprensa. Esse avanço na carreira se tornou tão comum, que é dito que um bom assessor de imprensa é aquele que trabalhou primeiro como jornalista. E é fato comum a migração dos profissionais que se destacam na área da comunicação entre empresas diferentes, mantendo uma espécie de “panelinha”.
Mas o que chamo a atenção (e digo e repito em sala de aula) é a peculiaridade de ser observado 24 horas que cobra que o jornalista (ou assessor, ou publicitário, ou relações pública, entre outros), dê o melhor de si. Não se acomodar é um fator importantíssimo para quem quer avançar na carreira e buscar “cavar” oportunidades também é importante. Procure espaços para mostrar suas habilidades além do que é obrigatório: um jornalista de jornal pode propor uma coluna sobre bastidores do esporte, por exemplo; enquanto um apresentador de tv sugere a criação de um quadro abordando os pontos de grande problema no trânsito local. E mesmo que não seja aceito no primeiro momento, não desista.
E tome extremo cuidado com o comportamento em eventos públicos e agora, também, nas redes sociais. Acredito que seja desnecessário dizer que querer colocar uma “melancia na cabeça” para poder aparecer pode gerar o efeito contrário.
O mercado está saturado de “mais do mesmo”, de um saber fazer jornalístico ultrapassado e incapaz de realmente informar de verdade. Com a mudança no cenário informacional, os profissionais precisam se adequar mais e muito, muito mais rápido, se pretendem sobreviver na área. O mercado já não quer mais o que todo mundo faz. Ele quer quem possa ir além. Num universo de profissionais medianos, aqueles que se diferenciam, que são as aspas na escrita comum, chamam a atenção e tem grandes chances de marcar seu lugar na área da comunicação.
Douglas Edson Fernandes
dougedson@gmail.com
Professor de Comunicação Social da Faculdade Pitágoras – Campus Divinópolis
Jornalista, especialista em Imagens e Culturas Midiáticas (UFMG) e em Poder Legislativo e Políticas Públicas (ALMG)