Gosta dos domingos. Para ele, era o melhor dia da semana. Dia de ir à missa pela manhã e reunir a família no almoço de domingo. Não se apercebera, mas desde cedo se apegava a rituais e estes eram alguns deles.

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Acordar cedo, tomar café e ir à missa. Foi assim nos últimos 75 anos e com raras ausências dominicais neste rito. Na igreja, admirava o padre. Nem tanto pela homilia e reza, mas pelo ritual da consagração do corpo e sangue de Cristo feito naquela longa mesa, que mudava suas vestes de acordo com o período litúrgico.

Admirava os utensílios de prata e ouro que reluziam quando eram utilizados nesta consagração. Um sacrifício rememorado todos os domingos para deixar claro que Cristo veio para nos salvar, nos alimentar com a sua paz e esperança dada por meio do Seu corpo e sangue. Para a remissão dos pecados.

Rituais servem para isso: reforçar o nosso entendimento, congregando pessoas em torno de um ato. Tal qual a Santa Ceia, os almoços de domingo eram, pra ele, um ritual importante e que reforçava laços.

A galinha caipira, abatida pela sua mãe na véspera do almoço, também fazia parte deste rito. Por mais repugnante que lhe parecia ser a ideia de tirar a vida de outro ser, ele entendia como sendo um gesto necessário o que sua mãe fazia.

A galinha era esfaqueada no pescoço, sangrava até a morte, era escaldada e depois depenada.

Aprendeu a não ver crueldade neste ritual que aparentemente é macabro, mas que tinha um fim nobre: reunir a família no domingo e comer a galinha caipira, devidamente preparada, acompanhada com macarrão.

A ideia dessa ceia, das conversas em torno dela e de toda a alegria envolvida ali, atenuava qualquer sofrimento ocorrido na véspera. Com o tempo entendeu que rituais fazem parte do contexto social e que pode ser macabro, ou não, de acordo com o ângulo que se opta por olhar.

Reforçar laços é algo frequente nas civilizações. E cada cultura tem a sua forma característica de fazê-lo. O que aparentemente é macabro pode ser mais um congraçamento e o que aparentemente possa ser visto como inofensivo, pode esconder gestos menos nobres.

É o fim de tudo que importa e não os meios. Se o fim tiver um objetivo maior, portanto, nobre, o rito empregado se legitima e passa a fazer sentido e se perpetua.

Foi dessa forma que viveu as mais de sete décadas de vida. Indo à missa sempre na manhã do domingo e almoçando com a família. Este foi seu rito, legado deixado aos seus descendentes.

Rodrigo Dias

artigorodrigodias@gmail.com

Sempre que invento de limpar,

Vem um vento…

E tira tudo do lugar,

Revira as folhas…

Do pensar.