A formação superior hoje é praticamente uma exigência mínima para os profissionais que buscam avançar na carreira, com melhores condições de trabalho e, claro, melhores salários. Porém, para a profissão de jornalismo, a graduação sempre foi considerada algo meio nebuloso, ou até místico, diria, já que anciões da área atuavam (e atuam) há décadas como profissionais formados sem nunca terem pisado em uma instituição de ensino. E antes que você pare de ler esse pequeno artigo, não, eu não vou tratar aqui sobre a exigência do diploma para atuação de jornalistas no mercado de trabalho, assunto exaustivamente esmiuçado e praticamente já ultrapassado. Minha proposta aqui é outra: debater a relevância de um curso superior na formação de bons profissionais.

 

Toda profissão, do juiz federal ao gari, do médico à faxineira, do engenheiro à prostituta, (sem desmerecer ou menosprezar ninguém, que fique claro) tem o seu “saber fazer”, a sua práxis. Dito isso, é possível afirmar que existem determinadas carreiras em que essa práxis pode ser desenvolvida de maneira autodidata, quase intuitiva. Minha mãe, por exemplo, descobriu o dom de lecionar quando, ainda criança, começou a brincar de “aulinha” e os pais perceberam que os filhos estavam realmente aprendendo algo concreto durante a brincadeira.

 

Essa habilidade que algumas pessoas desenvolvem não pode e não deve ser menosprezada, mas também não é determinante para que a pessoa se julgue um profissional completo. Retomando meu exemplo materno, anos mais tarde, já no segundo grau e posteriormente, na graduação, minha mãe investiu justamente em aprofundar seus conhecimentos na área didática, atuando como professora, supervisora e, por fim, como diretora de uma escola estadual (tarefa nada fácil de lidar, diga-se de passagem).

 

Pois bem, eu que hoje sigo os passos da progenitora, sou professor universitário e uma das disciplinas que leciono para o curso de comunicação é fotografia. Essa área é interessante porque se divide em técnica e estética. A parte técnica nada mais é do que saber lidar com as configurações mecânicas da máquina, ou seja, o saber fazer. Já a parte estética lida com algo além do apertar botões. É aqui que me debruço, junto com os alunos, enveredando por temas mais teóricos e críticos, principalmente, questionando as definições deles sobre o que é uma imagem e qual o significado que ela tem na nossa sociedade.

 

É aqui que trabalho com o pensar sobre o saber fazer. A parte técnica da fotografia pode ser assimilada facilmente para bons observadores ou mesmo compreendida com a leitura de alguns manuais. Mas saber compor boas fotos, trabalhando com o discurso imagético inserido na fotografia, demanda um debate e, também, a tutela de alguém com mais conhecimento para orientar os alunos. Apesar de citar aqui em específico a fotografia, essa dialética entre técnica/estética pode ser aplicada a qualquer área de atuação profissional.

 

Obviamente, nesse primeiro texto, trato do assunto de maneira geral, sem me ater ao pormenores, mas com o objetivo de dar continuidade a esse debate já no próximo artigo. E para finalizar, no início desse texto eu disse que a formação superior é requisito básico para o profissional que queria crescer. Os concursos públicos também podem ser uma opção (ainda que tenham se transformado em uma espécie de praga), mas vou deixar para tratar desse assunto para outro dia.

 

 Douglas Edson Fernandes

dougedson@gmail.com

Professor de Comunicação Social da Faculdade Pitágoras – Campus Divinópolis

Jornalista, especialista em Imagens e Culturas Midiáticas (UFMG) e em Poder Legislativo e Políticas Públicas (ALMG)