Fachada do Complexo de Saúde São João de Deus (Foto: Divulgação)

Hospital tenta destravar emendas parlamentares já no caixa da prefeitura para ajudar no custeio; Gastos na pandemia elevam custos

Amanda Quintiliano
Ricardo Welbert

O Conselho Curador do Complexo de Saúde São João de Deus (CSSJD) apresentou nesta segunda-feira (31/5) uma informação preocupante: a de que as contas do hospital têm tido déficit mensal de R$ 900 mil.

Segundo as primeiras informações, o comunicado foi feito a representantes do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), do Conselho Municipal de Saúde e a Câmara de Divinópolis.

O presidente do Conselho de Saúde, Warlon Carlos Elias, foi um dos participantes. 

“Foi apresentada essa situação do déficit mensal de R$ 900 mil e a equipe do hospital falou também das emendas parlamentares paralisadas.  Ficou definido que haverá uma nova reunião entre o MPMG e o Conselho Curador do hospital para tratar dessa questão das emendas. Se houver um acordo, a verba dessas emendas paralisadas poderá ser suficiente para arcar esse déficit mensal durante cinco meses. O Conselho entende as dificuldades e se dispõe a referendar qualquer decisão”, diz Warlon. 

São cerca de R$5 milhões em emendas travadas nos cofres municipais. A destinação delas foi alvo de questionamento, nesta segunda-feira (31/5), pelo deputado federal Léo Motta.

Em uma live de aproximadamente um hora, ele cobrou do prefeito Gleidson Azevedo (PSC) o repasse a unidade.

“Esses repasses estão no caixa da prefeitura e eu vim aqui conferir o porque desta palhaçada, essa turma aqui gosta muito de fiscalizar os outros, R$5 milhões. Teve que pegar dinheiro emprestado, a juros, porque o dinheiro está parado aqui, do hospital”, afirmou o deputado antes de entrar no prédio.

Já ao lado do prefeito, ele indaga: “Mandei o dinheiro para custeio que, inclusive, poderia ter sido usado na pandemia, porque esse dinheiro está guardado até hoje nos cofres da prefeitura?”

Gleidson então responde: “Porque o hospital São João de Deus quer gastar com reforma dentro do hospital”.

O vídeo foi feito pela manhã, antes da reunião do Conselho Curador. Nenhuma das fontes ouvidas pelo PORTAL GERAIS confirma que a unidade queira destinar as emendas para reforma.

Em busca de acordo

Um novo encontro deverá ser realizado ainda esta semana para discutirem sobre a destinação das emendas.

O presidente da Comissão de Saúde da Câmara, Zé Braz (PV), disse que cada instituição tem ajudado como pode.

“Estamos buscando emendas parlamentares para o CCJSD. Infelizmente, não são suficientes, embora já ajudem. Ainda temos de agendar uma reunião entre a Prefeitura, o MPMG e a direção do CSSJD para que possamos chegar a um acordo sobre esse déficit atual”.

Aumento do custo

O déficit não foi detalhado ao PORTAL GERAIS. A reportagem aguarda retorno da assessoria de comunicação da unidade que deverá se posicionar na manhã nesta terça-feira (1/6).

No dia 22 de maio, em matéria publicada no Jornal Estado de Minas, o CSSJD já havia sinalizado dificuldades financeiras em meio a pandemia. Dentre elas, a compra de medicamentos que compõe o kit de intubação, que além de se encontrar escasso no mercado está com valores exorbitantes, alguns deles atingindo um aumento de 1000% se comparado aos valores praticados antes da pandemia.

“O impacto pelo aumento do preço dos insumos hospitalares é sentido duramente no caixa da Fundação Geraldo Corrêa, pois este vem combinado com o aumento do consumo de determinados itens que são extremamente necessários para a preservação da saúde dos colaboradores ou no tratamento dos pacientes com a COVID-19”, informou na época.

Os principais insumos que tiveram aumentos em seus preços, são justamente aqueles que registraram o maior aumento também no consumo, pela necessidade dos pacientes e colaboradores que estão na linha de frente de combate à COVID-19, tais como gases medicinais (+64%), medicamentos como: anestésicos e relaxantes musculares (+60%) e EPI’s – Equipamentos de Proteção Individual utilizado pelos colaboradores, como: luvas de procedimento, máscaras de proteção, dentre outros (+78%) (ANEXO 1). Em média os custos com esses insumos representam entre 28% a 32% das despesas variáveis do orçamento. 

“Importante destacar que o aumento nos custos para aquisição dos insumos não pode ser repassado às operadoras de planos de saúde e ao SUS – Sistema Único de Saúde, pois os contratos vigentes não permitem que tais valores sejam reajustados antes do termino da vigência do atual contrato. Isto faz com que a Fundação seja dependente dos recursos extras disponibilizados pelo Ministério da Saúde para atendimento aos pacientes com COVID-19, mas que ainda são insuficientes para arcar com todo o gasto extra”, esclareceu.
 
Na época, o Complexo de Saúde São João de Deus já dizia que aguardava a liberação de emendas parlamentares pendentes de recebimento para que pudesse auxiliar no custeio dos atendimentos médicos/hospitalares para os pacientes vítimas do Coronavírus.

“Recursos estes obtidos com um esforço hercúleo pela atual administração junto à diversos deputados federais”, finalizou.

A reportagem também entrou em contato com o Ministério Público e aguarda retorno.