Sem aluguel social, obras e com medo de enchentes: moradores do Serra Verde vivem drama

Minas Gerais
Por -09/10/2025, às 19H14outubro 10th, 2025
moradores do bairro serra verde em divinópolis temem enchentes
Foto: Portal Gerais

Famílias de Divinópolis vivem medo de novas enchentes e denunciam falta de obras, corte no aluguel social e termo obrigando a reconhecer riscos

Cerca de 20 famílias do bairro Serra Verde, em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, vivem à sombra do medo e da incerteza quase um ano depois de terem suas casas invadidas por enchentes. Após terem recebido aluguel social da prefeitura até agosto, agora enfrentam a aproximação do período de chuva sem obras prometidas no córrego do Bagaço e pressionadas a assinar termos de responsabilidade reconhecendo alto risco de novas inundações.

O drama dessas famílias começou em 20 de outubro do ano passado, quando as águas avançaram sobre o bairro, destruindo casas e bens. A solidariedade se manifestou em campanhas de doação e a prefeitura ajudou. No final do ano, uma nova enchente, em 28 de dezembro, trouxe mais destruição. Na época, então, a prefeitura ofereceu o aluguel social para quem deixasse as casas.

“A primeira enchente ocorreu em outubro do ano passado, perdemos tudo. A prefeitura ajudou a gente com móveis, tudo. Em menos de dois meses veio a outra enchente, nunca tinha acontecido nesses 30 anos que moro aqui”, contou Maria Ângela Magalhães, que vive na comunidade há 31 anos.

O aluguel social era visto como uma esperança, porém, mesmo antes da realização das obras no córrego do Bagaço – consideradas fundamentais para evitar novas tragédias –, o benefício foi cortado em agosto deste ano. “A prefeitura cortou o aluguel social e a Defesa Civil quer que a gente assine um termo se responsabilizando pelo risco de novas enchentes. Falaram que suspenderam o benefício porque não há mais risco, mas a própria Defesa Civil admite que o risco existe”, desabafa Alessandra Machado, que só conseguiu restabelecer o benefício após entrar na Justiça.

Ela cobra uma solução.

“Como que vai ficar essas famílias? Como que vai fazer? Eles vão perder tudo de novo? Vai alagar as casas tudo de novo? E ninguém vai fazer nada?”

“Falta de respeito”

A Secretaria de Desenvolvimento Social não atendeu à solicitação do CRAS – Centro de Referência de Assistência Social – que defendeu a manutenção do aluguel até a conclusão das obras. Em setembro, agentes da Defesa Civil compareceram ao bairro apresentando um termo para que os moradores reconhecessem, por escrito, o perigo de voltar ou permanecer nas casas atingidas.

A mãe de Gabriela Morgana, outra afetada, se negou a assinar o termo levado pela Defesa Civil. Em resposta, escutou, então: “falaram que a única coisa que pode ser feita. Depois do acontecido (se água invadir a casa novamente), é parar um caminhão e pegar o resto dos móveis das famílias e levar para as escolas. Não podem fazer nada, não tem lei que faça eles pagar o aluguel.”, conta.

Maria Ângela Magalhães diz que não tem o dinheiro para manter o aluguel. Assim, terá que retornar para o imóvel, mesmo com risco de nova inundação..“Estou correndo o risco de ter que voltar para a minha casa, porque o orçamento apertou e eu tenho que pagar (…) Com o coração apertado vou ter que voltar de todo jeito, com medo de perder tudo e sem alternativa.”, completa.

Politicagem

A família de Gisele Marques tem imóvel no local há 25 anos. Ela está cansada de politicagem e falsas promessas. “O que a gente queria, eu, os moradores, era que viessem, que olhassem a manilha. Eles falam que a manilha é fina, mas tem que entrar, tem que olhar e desobstruir. E acho que se fizer isso, a gente talvez nem corre esse risco esse ano.”, avalia. Gisele já retornou para o imóvel. Na época da enchente, o filho e nora dela, moravam no local.

Cobrança para evitar enchentes no Serra Verde em Divinópolis

O vereador Vítor Costa cobra ação efetiva do poder público. “Fizeram uma limpeza no córrego, mas as obras prometidas nunca foram realizadas. A manilha não comporta o volume das chuvas. Essas famílias foram obrigadas a sair de casa, perderam tudo e agora estão sendo forçadas a voltar sem segurança e sem alternativa. As chuvas estão chegando. É hora da prefeitura agir, retomar o aluguel social e executar as obras prometidas.”

No início de agosto, a prefeitura divulgou um cronograma prevendo o desassoreamento do córrego do Bagaço até o final do mês.

O PORTAL GERAIS entrou em contato com a prefeitura, que ainda não enviou resposta. Contudo, o espaço segue aberto.