Todos choraram por Chaves, Michael Jackson, Eduardo Campos
Foto: Divulgação

Douglas Fernandes

Todos choraram por Chaves, Michael Jackson, Eduardo Campos

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Ainda me recordo da morte de Michael Jackson, em 2009. Na época, o que me chamou muito a atenção foi o alarde que se fez em cima do óbito do pop star, que até então, só era notícia na tv, jornais e internet, quando balançava uma criança no parapeito de um prédio ou estava envolvido em algum escândalo ligado às suspeitas de pedofilia. Mas daí, percebi que havia ali um comportamento mais estranho ainda: de repente, uma legião incondicional de amantes do ex-Jackson Five surgiu do nada, declarando seu amor aos quatro ventos.

Situação semelhante se repetiu essa semana com a morte de Roberto Gómez Bolaños, o eterno Chaves. Que o programa fez parte da infância de muitos da minha geração (e talvez das atuais), não tenho dúvidas, mas dizer que amavam o ator incondicionalmente, como muitos fazem crer, é mais modismo do que a dor de um luto. Acredito até que tantos desses que agora se dizem “fãs de carteirinha”, mudavam (e continuam mudando) de canal assim que o programa começava, porque já não aguentava mais ver o mesmo episódio pela milésima vez no SBT.

Com a popularização das redes sociais, ninguém quer se sentir excluído e nesse caso, tem que demonstrar que sente o mesmo que seu amigo, sua namorada, seu colega de trabalho ou aquela pessoa que você só tem como amigo na rede social porque é bonita.

A morte do Eduardo Campos, em agosto, não foi diferente. Na verdade, eu diria que foi até pior, porque essa moda de amar quem já morreu foi tão forte, que a comoção, por pouco, não alterou o resultado eleitoral para presidente, algo que deveria ser decidido pela razão e não pela emoção.

E ainda falando da morte de Campos, curioso foi que muita gente apolítica mudou de posição e decidiu debater o assunto, como se fosse expert. Daí, o então candidato foi transformado em mártir e serviu como alicerce para um discurso do senso comum, apontando que se não tivesse morrido, seria o melhor presidente do Brasil. Mas vai aí uma reflexão: quem era Eduardo Campos antes da sua morte? Salvo quem acompanha e gosta de política, o nome do ex-governador de Pernambuco não significava nada na disputa entre Aécio e Dilma. Mas bastou morrer para se transformar em ídolo, até mesmo com direito a selfie póstumo do seu corpo durante o velório.

O ditado que diz “não quero saber quem morreu, eu quero é chorar”, talvez esteja tão em alta como nunca. O comportamento para manter a interação social, seja ela pessoal ou virtual, é compartilhar o sentimento do outro. No caso de luto, seja o ídolo ou de alguém da família, não basta ligar ou desejar força para o amigo. É preciso o cúmulo de entrar no Facebook e curtir o post da pessoa que marca luto, relatando a passagem de um parente.

Em uma época de estreitamento de relacionamentos, quando é possível saber o que a pessoa pensa, gosta e faz em tempo real, ficar excluído pode não ser nada prazeroso. Daí, o melhor mesmo é pegar a onda mainstream e curtir, compartilhar e comentar o que todo mundo está curtindo, compartilhando ou comentando, mesmo que eu não concorde com aquilo. No caso da necrofilia das figuras públicas, elas parecem oferecer um ar de notoriedade irresistível para quem quer (parecer) que está na moda, como aconteceu com Campos, Jackson, Bolaños, Chorão e vai acontecer com Xuxa, Pelé, Lula, Dilma e tantas outras figuras públicas que virão pela frente. Quer você goste ou não. Daí o grande dilema é se você vai conseguir resistir à tentação de clicar no botão curtir.