Celebração Religiosa Antecede a Semana Santa com Ritos e Música Barroca
Sete dias antes da Semana Santa, entre os dias 6 e 12 de abril, Itapecerica mantém viva uma tradição bicentenária: o Setenário das Dores. A celebração, realizada na Igreja de São Francisco, recorda as sete dores de Maria com ritos solenes e música sacra, preservando influências do barroco tardio. Em 2018, o evento teve reconhecimento como bem imaterial do município, reforçando sua relevância histórica e cultural.
Durante a semana que antecede o Domingo de Ramos, fiéis participam da encenação religiosa, que se tornou uma forma de preparação espiritual para a Semana Santa. A presença de jovens e de moradores que retornam à cidade para acompanhar a celebração reforça o caráter comunitário do evento.
O ritual consta no livro coordenado por Dom Gil Antônio Moreira, em 2014, documentando sua importância para o patrimônio religioso da cidade.
As Sete Dores de Maria
As sete dores de Nossa Senhora, encenadas durante o Setenário, representam momentos de sofrimento da Virgem Maria:
- Apresentação do Menino Jesus no Templo
- A fuga para o Egito
- Perda do Menino Jesus na Peregrinação a Jerusalém
- Encontro no caminho do Calvário
- A morte de Jesus no alto do Calvário
- Maria recebe o corpo de Jesus em seus braços
- A solidão de Maria após o sepultamento de seu filho
Durante a celebração, o Invitatório do Setenário é entoado, reforçando o caráter solene do evento: “Dolores gloriosi recolentes Virginis dominum pro nobis passum venite adoremus”, que significa “Recordando as dores da gloriosa Virgem, vinde adoremos o Senhor que padeceu por nós”.
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Arte Sacra e Tradição Musical
O Setenário segue um rito tradicional, acompanhado pelos Motetos de Dores, peças musicais próprias, executadas pela Corporação Musical de Nossa Senhora das Dores. Além disso, um dos grandes destaques da encenação é o conjunto de 24 imagens sacras, que compõem os quadros da celebração.
Durante o minucioso processo de restauração, liderado pela restauradora Katya Helaine Silva, houve a identificação da técnica de papietagem em nove imagens – um método artesanal que utiliza tecidos, cola e jornais. De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o conjunto com sete imagens de Nossa Senhora das Dores é único em Minas Gerais.
Entre as demais imagens restauradas, estão figuras secundárias como José de Arimateia, Nicodemos, o profeta Simeão, São João, São José, Maria Madalena, assim como Maria de Cleofas. No total, são 12 imagens femininas e 12 masculinas. Além disso, representações do Cristo Morto e do Senhor dos Passos. Muitas delas possuem estrutura de ripas, assim, tornando-as mais leves para serem utilizadas em procissões.
Semana Santa em Itapecerica: Uma Tradição Preservada
A Semana Santa é o momento mais importante da liturgia cristã e atrai grande número de fiéis a Itapecerica. Muitos moradores que vivem fora retornam à cidade para acompanhar as celebrações, que seguem, então, uma estrutura mantida desde os séculos XVIII e XIX.
A forma como os mistérios centrais da fé são celebrados na cidade é uma herança da tradição portuguesa. Conforme registros históricos, entre 1854 e 1862, no tempo do vigário Domiciano José de Oliveira, as celebrações já seguiam o mesmo modelo que se mantém até hoje.
O Setenário das Dores e a Semana Santa em Itapecerica são expressões da fé, cultura e arte sacra, preservando um legado religioso que atravessa gerações.