Roberta Maria, de 15 anos, supera os limites e coleciona altas colocações nos torneios que disputa

Marcelo Lopes

Entre os skates que dropam e passeiam pela pista existente em Lagoa da Prata, um deles chama ainda mais a atenção de quem está presente no local. Todos os dias, quem está por lá, percorrendo os halfs e corrimões de forma habilidosa é Roberta Maria. A jovem, de 15 anos, dá uma aula de habilidade e talento, enchendo os olhos dos praticantes e admiradores do skate.

Ao PORTAL, Roberta disse que começou a acompanhar o esporte ainda mais nova, após assistir os vídeos da atleta brasileira Letícia Bufoni, que já aos 25 anos, é um dos nomes mais expressivos no esporte.

“Assistia e ficava pensando “será que eu consigo fazer isso?” E desde então surgiu esse meu interesse e comecei a acompanhar mais”, disse.

A adolescente iniciou as práticas aos 12 anos, após ganhar um skate da mãe. E mesmo após quedas e mais quedas, ela não desistiu.

“Na época, no dia das crianças, me surgiu um interesse tão forte em ter um skate, que eu pedi para a minha mãe e ela me deu. E fui na raça mesmo, aprendendo a andar sozinha em casa, porque ainda não tinha pista, nas ruas, caía, ralava tudo, mas eu aprendi, com muito esforço”, relatou.

Preconceito

Muitos ainda vêem o skate com maus olhos e com Roberta, isso não deixou de ser diferente. No início, pessoas, até da própria família, quiseram fazer com que ela mudasse de ideia e abrisse mão de praticar o esporte.

“Eles achavam que skate era só para meninos e que não tinha mulher no esporte. Depois que comecei a apresentar mais as mulheres, daí eles viram que não é bem assim, que tem o feminino muito presente. Nos campeonatos, nós vamos de van e só eu de menina”, explicou.

Dificuldades, perdas e superação

Para quem pratica o skate e hoje executa manobras com perfeição, não se imagina que bem antes disso, muitas quedas aconteceram.

Roberta perdeu o irmão em um acidente de moto, quando ele tinha 20 anos. Ele era sempre próximo da jovem, principalmente dentro das pistas.

“Ele foi um dos maiores incentivadores do esporte comigo e adorava quando eu andava”, disse.

Após a perda, com a tristeza, a adolescente pensou em desistir, não querendo saber de mais nada, tampouco de estudar. Então os amigos, que na época, estavam afastados das pistas, incentivaram Roberta a voltar a praticar o esporte. Com isso, ela espantou a raiva e outros sentimentos negativos em cima do skate. O irmão ainda segue presente com ela, a protegendo de toda dificuldade.

“Em todo campeonato eu peço iluminação, a proteção dele, pedindo que ele esteja comigo, que me dê calma. Tenho uma ligação muito grande com ele”, afirmou.

Após voltar às pistas, Roberta ainda queria mais. O skate que ela tinha possuía rodas de borracha e não corria muito. Então, com esforço e persistência, a jovem decidiu vender bombons para comprar um equipamento de mais qualidade.

“Pesquisei o valor do skate, que era R$ 220 e fiquei louca. Então disse “mãe, vou fazer bombom e vou vender”. Fiz os bombons na segunda-feira e sai vendendo. No domingo, já tinha conseguido o valor. Juntei o dinheirinho suado, comprei o skate e daí a paixão aumentou cada dia mais e cada hora que passava, a sensação aumentava e é libertador para quem anda”, declarou.

Campeonatos e próximos passos

Quando chega o período de campeonato, Roberta fica focada e muito ansiosa. Ela treina na pista durante todos os dias, após os estudos. Com a pouca idade, mas possuindo muito talento, ela sempre planeja como será cada dia.

“Coloco as minhas manobras e a medida que vou acertando as de base, vou tentando novas. Vou treinando a semana inteira e chegando na hora, já estou com todas treinadas e aí é só ter fé que vai dar tudo certo”, disse.

E está dando certo. Roberta coleciona classificações em primeiro e segundo lugar nos campeonatos que disputa, fazendo com que todo esforço valha a pena.

“Isso já é muito bom para mim, pois quando comecei, ficava mais em quinta, quarta colocação. Depois fui evoluindo mais e graças a Deus, conseguindo maiores colocações”, relatou.

Para os próximos anos, Roberta deseja disputar torneios de forma amadora ou profissional, assim também como competições de renome nacional e internacional, como o Street League e o X Games. Para isso, ela está buscando patrocínios para seguir em frente, mas para quem já superou tantos obstáculos, isso será apenas um detalhe.

“Skate é garra e eu enquanto tiver garra, vou lutar e buscar o meu sonho”, finalizou.