toninho portal centro oesteNão há muito a se comentar: foi conquista barata, clássica, previsível e Camila não estava num dia bom. TPM escrito na testa em neon, pouco dinheiro e vontade de beber Campari.

 

– Sem gelo e sem laranja, pelo amor, sem laranja.

 

Balcão. Calor e clássico de final de ano do brasileirão = homens.

 

Um pontinho roxo de rabo de cavalo e Salto plataforma em meio a alvinegros e azuis.

 

– Três goles? Dia cheio, heim? – a voz rouca de tanto gritar saiu em meio a um soluço.

 

Ele já estava ali há muito tempo, bêbado e seu time estava perdendo de lavada.

 

Ela ajustou os largos óculos e lançou um meio sorriso sem graça para o cara suado do lado.

 

Jaime era torcedor, não qualquer torcedor, o cara tinha uma tatuagem do time no braço, de rena, mas fazia dois meses que ele exibia aquela coisa desbotada revezando suas três camisas cavadas.

 

– Posso apostar? – ele arriscou

 

– Pode e você vai acertar.

 

Ele se calou. Riu e parou quando ela continuou.

 

– Porque é óbvio, sabe? É lógico que você vai dizer que eu tive um dia difícil, que vim direto do trabalho, se for mais ousado vai dizer que perdi meu emprego ou o relacionamento e se for menos seguro vai dizer que briguei com alguém e precisava de uma boa dose para esquecer.

 

Ele esboçou falar algo.

 

– Alá! Gol do time com sua camisa! – ela emendou.

 

Jaime sequer olhou para o telão, riu, nitidamente desconcertado, ficou sem palavras e a olhou nos olhos. O álcool desceu, não houve aquela ajuda para dizer algo engraçado ou encorajar a uma tentativa louca e pouco se importar com a negativa.

 

– Minha aposta é que você quer sair daqui.

 

Ela analisou ao redor, os gritos alucinados, o balcão molhado, o homem ao seu lado e o telão.

 

– Parece que sou sua última opção de melhorar o resto da noite. – disse rindo apontando para o placar do jogo.

 

Ele a puxou pela ponta dos dedos até a porta, falaram sobre o dia, onde moravam, riram da tatuagem e o seu nítido desconforto com a camisa suada.

 

– Você não tem nada de príncipe.

 

– E você tem que deixar o sarcasmo em casa.

 

Gargalharam ofendidos e não se beijaram naquele dia, mas ele não soltou sua mão e ela sequer tentou.

 

Ela apontou uma barraquinha ao final da rua, ele achou estranho, mas concordou prontamente.

 

Não tinha maça do amor. Ela nem mesmo queria cocada e ele sequer comeu metade da canjica. Tentaram uma boate mais tarde, mas não ouviram suas músicas preferidas, porque não tinham. Não dançaram, ele era tímido e ela estava cansada. Camila falou sobre Luana, secretária de sua empresa que estava grávida e tinha sido demitida – ele fez meio sorriso. Ele emendou sobre as férias vencidas da oficina e o trabalho acumulado – ela sequer entendeu. Ele quis pegar na mão dela novamente, não tentou. Ela só queria ir embora ver novela. Sorriam um pro outro nos intervalos das músicas. Ela arriscou:

 

– Tô com fome!

 

Ele pensou num restaurante, ela em um cachorro-quente – foram a uma pizzaria.

 

Namoro.

 

E sobre desacordos, se acertaram, se entenderam e se apaixonaram. Ela odiava suas unhas pretas de graxa e futebol. Ele tinha pavor daqueles óculos de Velma do Scooby-Doo que ela nunca tirava.

 

– Use lentes, amor, você tem olhos tão lindos.

 

Ela só escutava “amor” e “olhos tão lindos”.

– Camila, hoje tem jogo! Vou ver lá no Clebinho – gritava do quarto.

 

– Eu também – se irritava.