Atendimentos diários aumentaram 100% e tempo de espera chega a sete horas
O surto de dengue em Itapecerica, no Centro-Oeste de Minas, está gerando sobrecarga na Santa Casa – a única unidade hospitalar da cidade com pronto-atendimento. Pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) relatam até sete horas de espera, além de terem de desembolsar cerca de R$ 70 para o exame.
Morador de Marilândia – distrito do município – o filho de Acácio José está na relação desses pacientes. Ele deu entrada às 8h15 desta terça-feira (2/1) e só saiu de lá após as 15h. A suspeita é de dengue.
De acordo com Acácio, 10 minutos após chegar no pronto-atendimento o filho dele passou pela triagem que o classificou como “pouco urgente”, recebendo a pulseira na cor verde. Nestes casos, a espera estimada é de até 120 minutos, segundo o protocolo de Manchester.
“Começava ali uma experiência regada a humilhação, indignação e descaso”, afirmou.
Acácio relata que havia pacientes na portaria, corredores.
“90% com sintomas de dengue”, conta.
A esposa de um paciente diagnosticado com dengue, por exemplo, confrontou a equipe de atendimento, sobre a demora e a falta de respostas por parte do hospital.
Já eram quase 13h quando um dos dois médicos apareceu para tentar explicar a situação.
“Começou a falar sobre a situação precária do atendimento, dos casos graves aos quais tinham de assistir ao mesmo tempo que o atendimento normal ao público”, relembra Acácio.
Contudo, ele e o filho só saíram da Santa Casa após às 15h.
“Sem comer, com fome, porque ali não tem lanchonete perto, restaurante”, relata.
Uma das justificativas para a sobrecarga do pronto-atendimento seria a ausência de médicos nos postos de saúde, segundo, relatou Acácio.
Santa Casa de Itapecerica
De acordo com o administrador da Santa Casa, Wellington Rodrigues o atendimento diário saltou de 70 pacientes por dia para 140. O aumento está ligado ao surto de dengue.
Para atender a demanda houve a contração de mais um médico há cerca de 30 dias. Antes, o pronto-atendimento funcionava apenas com um profissional. Todo o custeio fica por conta do município.
Contudo, ainda assim, não está sendo suficiente para atender a alta demanda.
“O que temos que atender é urgência e emergência. Por isso há essa sobrecarga, porque além de fazer esse atendimento há essa procura de pacientes com sintomas de dengue”, explica.
80% dos atendimentos a pacientes com dengue são com sintomas leves que, poderiam procurar os postos de saúde.
Ainda de acordo com o administrador, os exames para confirmação da doença são realizados apenas em três situações: gestantes, casos graves e internações.
Nos demais casos o médico prescreve e fica a cargo do paciente fazer ou não.
“Ele pode procurar a Secretária de Saúde para pedir autorização para fazer”, esclarece.
Do contrário, o paciente, mesmo do SUS tem que desembolsar cerca de R$ 70 nos laboratórios da cidade.
Surto de dengue
A assessoria de comunicação da Prefeitura de Itapecerica confirmou o aumento crescente de “notificações de dengue”. Porém, em número bem menor à realidade encontrada na Santa Casa.
Em seis semanas o município informou 287 notificações formais ao Ministério da Saúde.
“Por esta razão, houve exponencial crescimento da demanda de serviços médicos junto às Unidades de Saúde do Município e, especialmente, no Pronto Atendimento Municipal, cujo serviço é terceirizado via contrato com a Santa Casa de Misericórdia e Maternidade Sant’Ana, entidade privada filantrópica”, informou.
Ainda conforme a assessoria, a Secretaria Municipal de Saúde, em paralelo às ações de rotina, está promovendo ações emergenciais visando providências mais efetivas para melhora do atendimento à população. Uma delas, já em execução, é a implementação da hidratação de pacientes também nos Postos de Saúde, resolvendo significativamente a sobrecarga junto ao Pronto Atendimento.
“Somada a tal medida visando melhorar o atendimento de pacientes com suspeita ou com diagnóstico de dengue, sem prejuízo do atendimento das demandas de rotina, já foi ampliada a equipe de frente do Pronto Atendimento, com aumento da contratação de enfermeiros e médicos”, informou.
Sobre a possível falta de médicos nos postos de saúde, a prefeitura não se posicionou.