Rodrigo Dias
Então chegou o Natal. Logo mais, pelo menos para a maioria de nós, a mesa será “farta” e rodeada por pessoas próximas e queridas. Bom, mesmo que sejam simples os presentes farão parte deste ritual de cada ano.
Até a ceia, vale considerar dois fatos ocorridos recentemente e que encarnam, com propriedade, o espírito, de fato natalino, que muitos julgam não existir mais nesse tempo; a não ser em discursos e ações demagogas propagados nesta data e esquecidos ao longo do ano.
Natal, diriam os mais simples e sábios, é tempo de reconciliação e amor. A época é propícia para reatar laços em prol de algo maior. Pelo menos foi essa a mensagem sugerida pelo Criador quando enviou aqui seu filho, o Divino, no meio de nós para resgatar a aliança e, assim, salvar o homem.
Não vou considerar aqui as iniciativas políticas e/ou econômicas que possam ter movido a ação, mas o fato é que, num mundo cada vez mais carente de bons exemplos e atitudes, o anúncio do governo dos Estados Unidos em terminar com o embargo a Cuba é um gesto nobre e cheio de representatividade. Um alento ao mundo que se divide em meio a ideologias econômicas e religiosas que, quando combinadas, causam o holocausto. Ficamos na expectativa de que esse anúncio não seja só mais um conto de Natal, mas que se aplique e se viabilize de fato. Bons exemplos sempre arrastam.
Outro acontecimento expressivo foi o discurso do Papa Francisco, no Vaticano, para a alta cúpula da Igreja. Franciscano, o Papa dá sinais de compreender bem a amplitude do seu papel na sua instituição e no mundo. Para ele está claro o que é fé e religião e o que é invenção do homem.
Francisco não disse nada de diferente que os estudiosos, mundo afora, pensam da igreja enquanto instituição gerida por homens. Como no caso da Petrobras, lá também existem inúmeros desmandos, vaidades exacerbadas e acúmulo de prestígio e riqueza. Tal qual a grande empresa governamental brasileira, a igreja também está doente. Deve se tratar e voltar-se para sua essência.
Mais uma vez é o exemplo que arrasta. Não adianta pregar uma coisa e ir numa outra direção. Ostentar o que de fato não é. Fazendo um paralelo com a época em que vivemos, Natal é tempo de reflexão e é isso que Francisco propõe.
A reflexão permite análise e mudança de atitude. Natal é, também, tempo de esperança e de renovar o entusiasmo com a vida e, neste caso, esses dois exemplos são importantes e merecem ser interpretados.
Uma amiga me enviou um vídeo do filósofo brasileiro Mário Sérgio Cortella. Aos desprovidos do bem material – mas que aqui eu julgo se aplicar a todos – ele deu a seguinte mensagem de Natal em um programa de TV:
– “A coisa mais importante que eu e você podemos ter na vida quando não temos mais nenhuma outra coisa é esperança. Mas tem que ser esperança do verbo esperançar, porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. Esperança do verbo esperar não é esperança; é espera. Tem gente que diz: eu espero que dê certo, eu espero que resolva. Isso não é esperança, é espera. Esperançar, de onde vem a palavra esperança, é ir atrás, é buscar e não desistir. (…) A tragédia não é quando um homem morre, a tragédia é aquilo que morre dentro de um homem enquanto ele vive. (…)”
Reflitamos. Feliz Natal.
Rodrigo Dias
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