Choveu a manhã toda, carro estava na oficina há uma semana. Molhou os sapatos novos, chegou atrasado à reunião, esqueceu o relatório final na escrivaninha e mais tarde descobriu que o gato tinha rasgado boa parte.
No bolão da rodada do brasileirão ele foi o único que não acertou nenhum resultado, a caixa do supermercado fechou bem na sua vez e ele só tinha um suco na mão. O escritório atrasou o pagamento mais uma vez, os Correios extraviaram a entrega dos livros do curso e a prova era na segunda. Vestiu uma meia de cada cor e no meio da tarde descobriu que estava com o zíper aberto. Substituiu o almoço pelo café e o café por um gole de chá sem açúcar da secretária – sorriu com dificuldade e agradeceu.
Esqueceu-se de entregar os filmes na locadora e o leite fora da geladeira. Bateu o cartão errado na saída, esqueceu o celular sobre a mesa, entrou no ônibus e não tinha nota trocada – sentiu a ira da trocadora e a vingança muitas moedas.
Trancou o portão ao tentar abrir e percebeu que tinha deixado tudo aberto. Telefone tocou junto com o primeiro sonoro palavrão do dia.
– Podemos conversar?
Já fazia muito tempo que não ouvia aquela voz
– Claro, passo ai mais tarde – disse numa voz tremida, tentando controlar a dor do estômago.
– Você esta bem?
– Estou ótimo! – sorriu, se sentando no chão.
O dia não podia ter sido melhor.