Antonio Andrade

 

toninho andrade

 

– Quantas estrelas tem no céu, mamãe?

 

– Não pode contar, dá verruga no dedo – disse, retirando a menina pendurada na janela e a jogando na cama.

 

– Mais de onze, eu contei – riu, correndo para o seu quarto e batendo a porta.

 

Vestiu a saia azul. Posicionou-se em frente do espelho, olhou de um lado, do outro lado, ficou de frente.

 

– Manhééé! Cadê aquela calça que estava em cima do cesto de lixo?

 

– Lavando, oras!

 

Coragem, o cachorro covarde.

 

Colocou o pijama, pegou o sorvete e se jogou no sofá.

 

Seis anos, pernas longas e agitada:

 

– Quietaaaaaa! Por tudo que é mais sagrado, quieta, menina! Deixa eu prender essa gafuringa – se irritava a mãe com um pente preso nos dentes, uma buchinha numa mão e a menina entre as pernas.

 

Correu.

 

– Vai cair, menina!

 

Caiu.

 

– Cinco anos – dizia fazendo um quatro com os dedos.

 

Um aperto na bochecha de um desconhecido, um carinho na cabeça e um elogio. Odiava.

 

No máximo seis horas da manhã de pé. O cheiro do café da mãe a despertava todos os dias e a luz fraca de um sol tímido invadia seu pequeno quarto pela fresta na janela.

 

– Mãããe! Mãããe! Cadê o sol – desesperou numa manhã.

 

– Tá nublado, filha – gritou da cozinha.

 

– E as estrelas?

 

– Já é dia, você sabe. Estão dormindo.

 

– Quantas estrelas tem no céu, mamãe?