A leitura do que hoje é fato só será precisa quando for descolada do tempo presente. São os anos, os diversos ângulos e filtros a serem utilizados, que nos permitirão ter uma análise do que hoje é notícia revelada ou interesse oculto.
O tempo tem estas propriedades: decantar e depurar. Ele permite separar melhor as coisas e enxergá-las com menos paixão e ouvindo-se, portanto, a voz da razão.
Tudo o que aparenta ser um embaralhado, um grande nó, sucumbe à ação reveladora do tempo. Seja pela consciência dos protagonistas que gritam em silêncio e se expõem, ou seja, pelo nosso amadurecimento reflexivo que permite ver além das aparências da atualidade.
A história do Brasil está recheada de fatos assim: antigas verdades que sucumbiram com o tempo e se mostram como máscaras utilizadas para disfarçar situações.
Mas para ser revelador o tempo, necessariamente, não tem que correr por séculos. O acesso à informação que gera conhecimento hoje se dá de forma mais rápida, e os entendimentos que estejam mais próximos da verdade poderão vir também mais rápidos. Diferentes de tempos atrás.
Cada vez mais é necessário desconfiar do que nos é posto à mesa. Não que tenhamos que ser céticos por essência, mas precavidos e menos pueris. Seja isto no entendimento da maldade ou da bondade alheia.
O pensador, compositor e cantor Tom Zé criou um termo interessante em uma de suas canções que ilustram os tempos atuais, a “Unimultiplicidade”, em que cada homem é sozinho a casa da humanidade. O recorte que faço dessa definição do Tom é que estamos juntos e sós. Juntos naquilo que nos é comum, e sós para criar as nossas conexões e valores que podem impactar, porque não, no todo.
O entendimento provocado nas “massas” pode ser encabrestado, induzido a tal. O que é construído internamente, com base em valores sólidos e mais nobres, não poderá ser domado e tampouco colocado à serventia de interesses escusos.
Num momento de tanto conflito e de tantos interesses, explícitos ou não, é necessário se recolher à individualidade e pensar. Se for para ser uma engrenagem do sistema que seja, então, a mais ruidosa. A inconformada, a que aponta que há um problema.
O tempo é areia que se vai com o vento e revela o escondido ou que está disfarçado. Hoje, a areia ainda está alta e o vento é brisa, mas quando for a hora da maturidade o vento vira ventania.
(…) Como começo de caminho quero a unimultiplicidade onde cada homem é sozinho a casa da humanidade. Não tenho nada na cabeça a não ser o céu não tenho nada por sapato a não ser o passo. (…)