“Se você nega a doença, faz campanha a favor da aglomeração, nega-se a seguir as normas sanitárias, merece, infelizmente, amargar de portas fechadas ou no seguro desemprego”.

Pode-se por preço à vida? A pergunta tornou-se bastante comum neste último ano. Afinal, qual o impacto uma economia que já não vai lá bem pode causar se paralisada? As dúvidas rondam mais que as certezas. E assustam.

A verdade é que em um ano não foi possível atingir o tal “equilíbrio” entre economia e vida. Fechou. Reabriu. Nada foi feito. O colapso no sistema de saúde, anunciado ainda em março do ano passado, aconteceu. De canto a canto do país os municípios amargam a falta de leitos, sejam públicos ou privados. Famílias choram a dor da perda, a solidão da doença, a chance arrancada de dizer o último adeus ou a agonia entre o diagnóstico e a recuperação.

Em um país que vive uma eterna crise na saúde, sucumbida pela corrupção, não era de esperar muita coisa diferente. Mas, houve alertas. Como houve. De especialista a especialista. Mas o que pesou mesmo foi a opinião dos especialistas formados nas redes sociais. Uma mensagem de WhatsApp passou a ter mais peso que as declarações na Organização Mundial de Saúde (OMS).

Os hospitais abarrotados é reflexo do negacionismo desvairado entoado a quatro cantos pelo presidente. Uma campanha sem sentido por tratamento precoce sem nenhuma comprovação científica. Gastou-se mais energia com a cloroquina do que com as negociações e buscas por vacinas.

Descumprimento sistemático das normas mais básicas de prevenção. Festas clandestinas criminosas. Soma-se a isso a arrogância, prepotência de quem duvida e vomita: “agora só morre gente de Covid”, “sempre faltaram leitos”, “é só uma gripezinha”, e por aí vai.

Se a pandemia – a pior da história – não tivesse sido minimizada, desde lá do início, o cenário poderia ser outro. Se você usasse a máscara, o álcool em gel, evitasse aglomerações… se você não brigasse com o garçom para juntar mesas e nem o proprietário permitisse, se você mantivesse distância na fila do supermercado, se não frequentasse churrasco com a turma… a discussão teria outro nível. 

Talvez, digo talvez, não seria necessário o extremo de termos, mais uma vez, que passarmos pela agonia do comércio fechado, do fantasma do desemprego. Porque no fim, na linha de hierarquia, é sempre o pequeno quem paga o pato. É a lojinha da Maria que fecha as portas. É a vendinha do Manoel que dispensa os únicos dois funcionários. É a Bia que fica sem renda com o salão fechado. É o barzinho agradável do José que não consegue pagar o aluguel.

Mas o que você tem feito para evitar tudo isso? O que você tem feito para manter o equilíbrio? Se você nega a doença, faz campanha a favor da aglomeração, nega-se a seguir as normas sanitárias, merece, infelizmente, amargar de portas fechadas ou no seguro desemprego.

Duvidar da doença que já tirou 282,4 mil vidas é um direito seu. Cumprir as normas básicas é um dever. Na dúvida, é melhor não arriscar vidas, CNPJ’s e empregos. 

Só existe uma solução para tudo isso: vacina. Até lá, é seguir as normas sanitárias, queira você sim ou não. Se seguir já estará fazendo sua parte para evitar a propagação do vírus, a superlotação dos leitos e, consequentemente, manter a engrenagem econômica operando.

Ao poder público, cabe parar de fazer vista grossa, não poupar multa e botar fiscal na rua. A abertura de leitos também é essencial. Mas daí, é necessário formar equipes. Esse assunto rende pano pra manga e fica para um novo texto.

Cuide-se!