É comum ouvir por aí que ninguém está preparado para a morte. Mesmo sendo um fenômeno natural, diga-se de passagem, trata-se da única certeza que temos ao nascer. A morte é algo que assombra, indesejado.

 

 

rodrigo (1)

Mas por ser a única certeza que nos é dada ao nascer, ela tinha que ser natural e aí deveria ocorrer uma inversão do conceito, ou seja, “ninguém está preparado para a vida ao nascer”.  Se a morte é uma certeza, a vida é uma incógnita.

Diferente da morte, em que qualquer ato contra o nosso frágil corpo pode encurtar a nossa permanência por aqui, o “estar preparado para a vida” aprende-se vivendo. O viver não é o simples passar dos dias, mas solver todas as experiências nele vividas. As doces e as amargas.

Em outras palavras, morrer é certo. Viver é incerto. É essa incerteza que consome. Afinal, nem todos estão devidamente preparados para passar pelas possíveis provações que o viver nos impõe em vários momentos. Muitos, também, não estão suficientemente preparados para os prazeres que a vida contém e pode nos ofertar.

Já a morte não. Pode-se questionar o momento mais próprio para sua chegada, mas ela virá. Se o viver por vezes é desigual a morte não é. Ela iguala a todos. É bem verdade que finda alegrias, mas também os sofrimentos.

Se alguns têm a possibilidade de uma vida farta e outros de uma vida miserável, a justiceira morte põe um ponto final em tudo. Na incerteza que é viver.

Assim que o indivíduo tem a certeza da morte – de que não é eterno e sim perecível – ele, de alguma forma, consciente ou não, começa a se preparar para a vida. Isso se faz de forma diária, por meio das pequenas experiências que devem, sim, ser estimulantes para conquistas maiores.

Se o raciocínio acima tiver validade, logo pode se concluir que a possibilidade da morte é o principal estimulante para a vida. Do engatinhar à faculdade tudo é preparo.

Se para alguns se morre a cada nascer de sol vivido, é facultado ao indivíduo renascer a cada etapa da vida, e mesmo que não seja vencida ao menos que seja concluída. Vivida com plenitude.

Se por um lado a morte é certeza, o que acontece depois dela – salvo os que defendem algumas doutrinas como a espírita -, é algo duvidoso. Não conheço ninguém que tenha ido ao “céu” ou ao “inferno” e que tenha voltado de um desses dois lugares para dizer como são as coisas por lá. Até que isso possa ser revelado para mim ou para você, o melhor a se fazer é viver em paz.

Entre a morte e a vida há o homem e a possibilidade. Pode-se fazer muito em pouco tempo e nada em muito. Ser intenso ou raso. Tudo vai depender do preparo de cada um.

Há aqueles que acreditam que a morte faz parte da vida. Como existem outros que defendem que é a vida que pertence à morte. Tanto num caso como no outro é o que está no meio que importa.