O ano de 2016 terminou com episódios de ódio. Gente que perdeu a vida pela desumanidade alheia. O ano de 2017 começou com episódios de ódio. Gente que perdeu a vida pela desumanidade alheia.
O ano mudou, o ciclo foi alterado, mas a intolerância e a irracionalidade persistem. Mesmo com todos os desejos de paz e prosperidade, parte de nós insiste em viver na selvageria, na animalidade bestial que não é típica do homem racional.
A violência já se incorporou ao nosso cotidiano. A cada dia, um ato novo. Esta crescente faz com que fiquemos indiferentes a tais atos, não nos impressionemos tanto até que venha um mais cruel. Daí a pouco ele passa e cai no esquecimento para dar lugar a outro.
De violência em violência a vida segue. Aprende-se a conviver com ela. Se antes algumas dicas de autoridades policiais eram para preservar a nossa segurança, hoje, em vários casos, elas são dadas para manter o indivíduo vivo.
Tornamo-nos reféns da insegurança e da violência. É instalada uma nova ordem que cerceia direitos e impede que o indivíduo goze uma vida plena. A nossa violência doméstica mata mais que determinadas guerras e assombra tanto quanto atos terroristas.
Uma crise de pânico social que não se restringe só aos grandes centros, mas se estende às pequenas localidades. Tirando o sossego do cidadão pacato.
Os reflexos disso? Estamos cada vez mais encastelados e desconfiados. A violência deixa a sociedade violenta que aprende ser necessário revidar ou criar mecanismos para se proteger. Iniciativas que em sua maioria consistem, também, em novos atos violentos.
Tudo que está enraizado leva tempo para ser curado. Com a violência não será diferente. Cultivar o cidadão do futuro é uma solução de longuíssimo prazo, mas necessária.
Não é a retórica que vai resolver a violência de agora, mas sim os atos. Estes, infelizmente, tendem, em determinados casos, não ser tão pacíficos.
Toda cirurgia, por mais simples que seja, tem seus riscos. E combater a violência pode, sim, causar sangramentos.O que fará diferença é o risco calculado e a possibilidade de cuidar desse sangramento.
Uma política de redução de danos será cada vez mais utilizada para resolver algo que nos é tão traumático, como a questão da violência.
Reavaliando cada ação. Isso porque a violência é variada, e uma mesma prática aplicada num determinado caso poderá se mostrar ineficiente em outro. Entender o porquê da violência está além de uma mera visão policial de prender ou matar.
Sua compreensão passa pela avaliação de elementos sociológicos, antropológicos e culturais. Enfim, consiste em compreender a nós mesmos e ao meio. O meio, nós e suas interações.