violência contra a mulher
Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

“A responsabilidade dos homens no combate à violência contra a mulher é parar de violentá-las.”

Violência contra a mulher. Onde nossas filhas estão seguras? Diante do caso absurdo registrado em Divinópolis esta semana, a resposta torna-se ainda mais difícil, tamanha a perplexidade.

Uma menina, de 12 anos, vítima de violência sexual praticada por um adolescente de 16 anos dentro do banheiro de uma escola.

Bastaram algumas horas desde a publicação das primeiras notícias para que – embora não seja de se estranhar – chovessem tentativas de desqualificar a vítima. “Foi consensual”, disseram. Como se isso justificasse a prática e a exposição por meio de um vídeo gravado sem autorização. Não basta que tenha sido compartilhado entre amigos.

Falta empatia. “E se fosse sua filha, irmã, neta?”. Estupro de vulnerável: não há consentimento, só crime! Repitam: A culpa não é da vítima.

A tentativa de minimizar o crime só não é mais cruel do que o crime em si. Adolescentes, adultos, homens. Eles sabem quando estão em uma conduta errada. Então, parem. Não temos mais que dourar essa pílula.

Pacto da masculinidade e a violência contra a mulher

A responsabilidade dos homens no combate à violência contra a mulher é parar de violentá-las. Ao contrário, assistimos insistentemente a um pacto de masculinidade, a essa falta de responsabilidade, diante de um cenário atormentador, em que nos vemos cada vez mais encolhidas e forçadas a reclusar nossas filhas.

No ano passado foram registrados quase 84 mil estupros no Brasil, de acordo com a última edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira. Um aumento de 6,5% em relação a 2022 e um novo recorde para esses casos. No comparativo com o início da série história, em 2011, quando ocorreram mais de 43 mil e oitocentos casos, houve um aumento de mais de 91% nesses crimes.

O crime de estupro de vulnerável, aqueles em que as vítimas são menores de 14 anos ou incapazes, responde por 76% das ocorrências em 2023. Tamanha barbárie.

Os números nos colocam diante da urgência de um esforço coletivo para que as estruturas sociais se mobilizem e rompam a cultura do estupro. É preciso falar sobre o assunto. Sobretudo, precisamos assumir, enquanto pais, a responsabilidade pela criação e educação dos nossos filhos.

Discussão de gênero das escolas

Pode parecer duro. Mas, não dá para negligenciar e terceirizar às telas uma obrigação que é nossa. Se não quer ter trabalho, não tenha filhos.

Ao mesmo tempo, não podemos fechar os olhos para outra realidade: 84% dos agressores continuam sendo familiares ou conhecidos, que cometem os crimes nas próprias residências das vítimas. Por isso, é preciso falar sobre a desigualdade de gênero nas escolas.

O combate à discussão de gênero nas escolas, com um conceito vazio sobre o termo para tentar impedi-la, só coloca nossas filhas em uma situação de maior vulnerabilidade. Precisamos atuar na construção de uma estrutura mais sólida, capaz de proteger nossas meninas e a nós mesmas.

Se os pais negligenciam a educação dos filhos ou praticam uma educação alienante, como esperar romper esse ciclo de violência que se renova a cada geração? A permissividade, a falta de limites ou até mesmo um ambiente familiar conflituoso e violento não romperão o machismo e o patriarcado. Por isso, não há como adiar a inclusão deste tema dentro das salas de aula como política pública que envolva toda a família.

Devemos contribuir para a formação de homens que rompam esse ciclo de violência e de mulheres capazes de identificar e denunciar esses crimes e criminosos.