toninho - arte

 

Foi pela manhã que Marina se deu conta.

 

— Filho da puta! — gritou com gosto.

 

Não foi um grito qualquer, foi um berro que descongestionou seus pulmões e curou a gripe de uma semana.

 

Ainda de pijama e com a xícara de leite intacta, ela o deletou da agenda, queimou o ursinho Poo, se desfez do resto da caixa de chocolates, este com um pouco de pesar, e atualizou o status de relacionamento do Facebook. Respirou mais fundo para aliviar o frio na barriga e acabou de tomar seu café.

 

Era sábado. Júlia foi a primeira a ligar ao estilo despretensiosa.

 

— Anima academia?

 

— Animo bar do Beco.

 

Júlia olhou para o enorme relógio na parede, apontando mais ou menos 10 horas.

 

— Bora!

 

E, em uma mesa solitária no melhor copo sujo da periferia, Marina riu como há 5 anos não ria. Quebrou um copo sem querer, arriscou não beber no começo para que não achassem que estava afogando as mágoas e depois foi se rendendo aos poucos; primeiro a caipirinha, depois cerveja e quando pediu a primeira dose de Black, a turma foi ao delírio.

 

— Essa é a Marininha que conheço! — gritou Serginho.

 

Gostou muito de ouvir isto e todos notaram, tamanho era o sorriso.

 

— Espera ai, me deixa limpar uma coisa na sua roupa — Laura se levantou do outro lado da mesa e foi até Marina, completando — Ah, é só poeira.

 

E riram muito, ninguém mais que a própria.

 

Quando o Black subiu, a emoção tomou conta e alguns pensaram em esconder o celular dela.

 

— Desculpa ter abandonado vocês, eu não sei onde estava com a cabeça — engasgou.

 

Abraço coletivo. Júlia pensou em fazer uma piada pornográfica para responder, mas não o fez — riu sozinha.

 

— Filho da puta! — desta vez gritou mais alto ainda. O dono do bar olhou assustado detrás do balcão; todos a olharam surpresos.

 

— Ah, foda-se, foi o último desabafo! — virou o resto do copo.