Rodrigo Dias

O governo vai mal? Não vai bem, mas pior é um país sem governo. Um país à deriva, sem expectativa, como o de tempos atrás. Um país em que se aceitava tudo. Até mesmo um regime ditatorial que cerceava direitos e fazia calar o povo, seja por meio da opressão ou pela bala.

 A diferença do Brasil de hoje para o de tempos atrás é o fator expressão e vigilância. Seja na análise dos meios de comunicação, ou no que é proferido pelos políticos, o brasileiro mais consciente tem muito mais capacidade de análise e instrumentos que auxiliam este exercício. O mentiroso, com boa vontade do brasileiro consciente, é facilmente desmascarado. E quem prega incertezas aos poucos vai perdendo credibilidade.

No que se refere à vigilância existem, hoje, muitos outros olhos. Sonegar e ludibriar são trabalhos para especialista, que terá de construir, para se manter, uma grande teia para sustentar suas tramoias. Tudo que é grande deixa rastro e, cedo ou tarde, a casa cai.

A política brasileira vive um momento de depuração. A meu ver, um fato normal em países que buscam o desenvolvimento. É necessário que os políticos se sofistiquem e deixem para trás antigas práticas. Esse parto para uma nova era é dolorido e lento, mas irreversível.

Políticos e agentes políticos vão se enquadrar a essa nova regra. É condição essencial para o equilíbrio da política. Sair do pragmatismo para ações efetivas. Ir além do discurso que deverá se sustentar por atos que nos convençam.

Nessa depuração da política brasileira pensar em um golpe é retroceder. É ir contra o que foi legitimado nas urnas. A reflexão tem que ser outra: os políticos que aí estão, em suas mais variadas esferas do poder, vão ter que aprender a trocar a roda do carro em movimento. Mudar o que não convence ou não está dando certo pela vontade do povo.

Mas até aí incide um perigo. Qual é a vontade do povo? A vontade de uma minoria pode sobrepor à de todos se essa minoria não tiver intenções mais nobres, ditas coletivas? As vozes das ruas, por vezes, podem ser um eco gritado dentro de um gabinete.

O momento é de constatação, sobriedade e cobrança. Desmando neste país não é característica de um governo, mas de uma política viciada que tende a privilegiar quem está próximo do comando.

Mudar um governo não adianta muito se não mudar o sistema e a intenção de quem se aventura na vida pública. Do jeito que está, cada vez mais as pessoas sérias e pensantes se afastarão da política por entendê-la como mau.

Mas se assim o for, trata-se de um mal necessário que está no seu limiar. Ou se muda agora os paradigmas da política brasileira ou nos convencemos de que aqui é terra de ninguém. Onde bons exemplos de administrações públicas serão sempre a exceção e nunca a regra.

A máxima “todo povo tem o governo que merece” não cabe mais. Se o povo é consciente é o governo que deve estar à altura dele, o povo.