A redução no comparecimento, conforme especialista, sugere uma crescente desmotivação ou desalinhamento dos eleitores em relação ao processo eleitoral.
Além da vitória expressiva de Gleidson Azevedo (Novo) sobre Laiz Soares (PSD), as Eleições 2024 em Divinópolis também se destacaram por aumentos na abstenção (que é o não comparecimento do eleitor) e nos votos brancos e nulos. Nas eleições deste ano, 23,68% do eleitorado, ou seja, 40.660 pessoas decidiram não votar. Em 2020, esse índice foi de 22,95%.
Aumento também nos votos brancos e nulos. Juntos eles representam 14.601 eleitores que optaram por nenhum dos candidatos a prefeito. Nas eleições municipais de 2020, esse número chegou a 14.279.
Em entrevista ao PORTAL GERAIS, o cientista político e sociólogo Antônio Faraco afirmou que a redução no comparecimento dos eleitores às urnas sugere uma crescente desmotivação ou desalinhamento em relação ao processo eleitoral. De 1996 até 2024, para se ter ideia, a abtenção em eleições municipais cresceu 150% (veja gráficos abaixo).
Ele chama atenção para o fato de que diferenças expressivas nos votos válidos para prefeito e votos válidos para vereadores.
“O mesmo acontece com brancos e nulos, para prefeito e para vereadores separados. Além disso, em 2020 tivemos votos anulados para eleição para vereador (3,99%)”.
“Com base nos dados apresentados, podemos observar variações significativas nos votos válidos, brancos, nulos e anulados nas eleições municipais ao longo do período de 2008 a 2024, tanto para o cargo de prefeito quanto para vereadores”, aponta.
Votos válidos para prefeito
Já sobre os votos válidos para o comando do Executivo, Faraco destaca que o o percentual de votos válidos oscilou ao longo dos anos, mostrando uma queda em 2016 (79,62%) e uma recuperação parcial nas eleições seguintes (88,73% em 2020 e 88,86% em 2024).
“A queda em 2016 pode indicar um contexto de descontentamento com as opções eleitorais”.
Brancos e nulos para prefeito
Ainda de acordo com o especialista, o pico de votos brancos e nulos em 2016 (20,38%) sugere um aumento no desalinhamento entre o eleitorado e os candidatos. O que, conforme ele, pode indicar desilusão política, protesto ou falta de competitividade na eleição.
“Após 2016, há uma diminuição no percentual de votos brancos e nulos, sugerindo uma recuperação de confiança ou a presença de candidatos que conseguiram mobilizar o eleitorado”.
Votos válidos para vereadores
A participação em termos de votos válidos também apresentou oscilações. A queda mais acentuada foi em 2016, onde os votos válidos representaram apenas 84,75%, seguida por uma diminuição em 2020 (82,70%).
“A recuperação dos votos válidos para vereadores em 2024 (89,40%) indica uma possível melhoria no engajamento ou um aumento no número de candidatos competitivos e atrativos”.
Votos brancos e nulos para vereadores
O percentual de votos brancos e nulos para vereadores acompanhou a tendência observada nas eleições para prefeito, com um pico em 2016 (15,25%) e subsequente queda em 2024 (10,60%).
“Esse padrão sugere que os fatores que levaram ao aumento de votos brancos e nulos em 2016 para prefeito também afetaram a escolha dos vereadores”.
Votos anulados
O percentual de votos anulados foi de 3,99% em 2020, nas eleições para a Câmara Municipal.
Comparecimento e abstenção
O especialista chama atenção para o fato de que os dados de votos válidos, brancos e nulos são proporção do comparecimento, enquanto o comparecimento e a abstenção são proporção do eleitorado.
“Os dados apresentados sobre comparecimento e abstenção de 1996 a 2024 mostram uma tendência de aumento na abstenção e, consequentemente, uma diminuição no comparecimento eleitoral ao longo do tempo”.
O comparecimento eleitoral, destaca Faraco, manteve-se relativamente alto e estável entre 1996 e 2012, com percentuais acima de 85%. Já em 1996 e 2000, ultrapassou 90%.
“A partir de 2016, observa-se um declínio mais acentuado no comparecimento: enquanto em 2016 ele foi de 85,78%, em 2020 caiu para 77,05%, e em 2024 continuou em queda, atingindo 76,32%”.
A redução no comparecimento, conforme o especialista, sugere uma crescente desmotivação ou desalinhamento dos eleitores em relação ao processo eleitoral.
“Possivelmente motivado por fatores como, por exemplo, falta de opções atrativas”.
Em termos percentuais, a abstenção passou de 9,45% em 1996 para 23,68% em 2024, quase triplicando em relação ao valor inicial.
“Esse aumento significativo indica um fenômeno de alienação eleitoral, no qual um número crescente de eleitores opta por não participar do processo de escolha, o que pode refletir um desinteresse pelo cenário político”, finaliza.