Rodrigo Dias
Tenho comigo que a vaidade e o orgulho são mãe e pai dos demais pecados. Não que as pessoas não devam ser vaidosas ou orgulhosas dos seus feitos, mas é a demasia que corrompe e abre as portas para atitudes menos nobres.
Coisas que são coletadas ao longo de uma existência, e quando se dá conta delas verificamos o quão fútil se tornou, por vezes, o ser. Hoje, por exemplo, não basta apenas fazer um bom trabalho, mas, sim, fazer o melhor. Superar o “outro”.
Mas até o conceito do que é “melhor” pode ser relativo, e mesmo que julguemos ter feito o melhor, aos olhos de outra pessoa isso não teria sido o suficiente. Talvez para evitar o “desconforto” por não ter sido o melhor, muitos, que se julgam melhores do que de fato são, alardeiam o que fazem. É bem aquele exemplo de que a galinha que canta é, verdadeiramente, a dona dos ovos.
Com tanta necessidade – ditada por quem? – alardear os feitos se tornou uma ferramenta corriqueira no dia a dia. Basta dar uma corrida nas redes sociais que logo se percebe um monte de gente gritando. Se impondo, muitas vezes, fazendo uso de argumentos que nem são os seus, mas é necessário alardear.
O propagar só por propagar, o dizer só pelo dizer, revela a ausência ou limitação de conteúdo e torna tudo muito superficial. Há vaidade e orgulho nisso? Alguns, penso, acreditam que sim.
As pessoas simples não são pessoas bobas e por não serem assim não são fracas. Neste aspecto a figura do papa Francisco ilustra bem esse tipo de atitude. Mesmo com tanto poder na ponta da caneta parece ter feito a opção por uma vida sem vaidades.
Outra figura de destaque que aparentemente parece personificar o que prega é o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica. O voto dele foi por uma postura mais recatada. Na medida do que precisa para viver, mas sem perder a densidade e sofisticação nas ideias.
A simplicidade é ausência de luxo? Acredito que não, mas é, no mínimo, estar despido da vaidade e orgulho excessivos. É ser original no sentido de entender que os apêndices que se colocam em torno dos atos ou do ser são só adornos que não devem se sobrepor a quem o sustenta.
Se não for assim, se vive no vazio e será sempre necessário um tipo de muleta ou bajuladores para sustentar quem opta por esta condição. Manter muletas e bajuladores tem o seu preço e nem todos conseguem pagar.
Valorizar, na medida, um feito seu ou trabalho é mais do que justo. Ser reconhecido por eles também. O doentio é querer ser estrela sempre.
Até elas, as estrelas, morrem e dão lugar a outras. Sem o céu negro perder o seu encanto. Vida que segue.