Ex-aliado do prefeito gravou conversa com Galileu e com o jornalista Geraldo Passos negociando cargo; Gravações ainda sinalizam influência de Fausto Barros mesmo exonerado do cargo

Amanda Quintiliano

O vereador Edson Sousa (MDB) articula a instauração de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o que chamou de “compra de cargos” na Prefeitura de Divinópolis. O pedido deverá ser protocolado nesta quinta-feira (26) caso ele consiga a quantidade de assinatura necessária, um terço dos parlamentares.

A decisão de mobilizar o pedido foi após a denúncia do tribuno de terça-feira (24). Marcelo Máximo, conhecido como Marreco e ex-aliado do prefeito, Galileu Machado (MDB), afirmou ter recebido convite para nomeação em um cargo na prefeitura, sem precisar trabalhar. Um áudio de uma suposta conversa dele com o prefeito foi entregue aos vereadores Edson, Dr. Delano e Adair Otaviano, todos do MDB.

No suposto áudio, o prefeito fala apenas do cargo. Inicialmente menciona uma mudança no organograma e por fim cita a nomeação para uma função de coordenadoria.

“Vou fazer aqui, aqui o organograma e vou ver aqui onde pode colocar “ocê””, diz supostamente Galileu no áudio.

Em seguida Marreco diz:

“Pode colocar na construção civil. Tudo que você pensar sobre construção civil, eu faço, uai. Acabamento e tudo”.

Galileu então completa:

“Sei… mas tive uma ideia de você ficar na coordenadoria, um trem assim, sabe como é que é? Trabalhar não”.

Marreco, então afirma:

“No que você pensar, eu sei fazer”.

PAC

A ligação começa com Galileu lendo um suposto requerimento que leva o nome de Marreco e do procurador, Lauro Coelho. O documento se refere as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para pavimentação de vias. Na sequência o prefeito, então, teria dito que a situação já estava resolvida, ou seja, com os recursos liberados.

“É porque já resolveu, entendeu? Nós fizemos novas planilhas de custo, porque eu não queria receber nada sem fazer, sem testar a planilha de custos, entendeu? Então eu mandei fazer as planilhas de custo para testar se ficava tudo conforme os preços, né? E os que fizeram até agora deu”, diz.

Compra de cargos

Ao PORTAL, Marreco disse que não sabe qual foi a intenção do prefeito ao oferece-lo o cargo. O decreto de nomeação, com data do dia 23 de abril, chegou a ser redigido e assinado. Entretanto, segundo o denunciante, ele não sabe se chegou a ser publicado, já que recusou o convite.

Apesar de não dizer que houve tentativa de “suborno”, o pronunciamento de Marreco veio também com menção a denúncias relacionadas ao PAC e também ao PRO Transporte.

As obras do PRO Transporte foram retomadas no final do último ano do mandato do ex-prefeito, Vladimir Azevedo (PSDB). Ao PORTAL o denunciante alega que uma nova licitação teria que ter ocorrido para garantir que não houvessem vícios na planilha, superfaturamento. O cronograma de execução já está na reta final.

Já os R$26 milhões do PAC foram liberados pelo Ministério das Cidades, porém será necessária nova licitação por recomendação do Ministério Público.

Tentativa de suborno

Outros áudios foram gravados pelo denunciante, porém, supostamente com o proprietário do blog, Divinews, Geraldo Passos. O jornalista aparece tentando, em um áudio de quase 7 minutos, de dissuadi-lo de fazer denúncias contra o prefeito.

“Agora você tem que ter cabeça. O que importa é a sua subsistência. Porque na hora H, eu já vivi isso na pele, você sabe disso, os xiitas não aparecem, um exemplo é o Teodoro, não aparecem para dar retorno, te ajudar não […] Aí eu falei assim oh: o Marcelo vai arrasar com vocês, se vocês não derem um jeito. Sabe o que eles fizeram: arrumaram uma nomeação e está com o decreto para você […]”, disse Passos na gravação.

No áudio, o jornalista ainda menciona o nome de Fausto, que seria o ex-secretário de Governo, Fausto Barros – exonerado após ser afastado pela justiça por coação de testemunha.

“Parece que o Fausto vai te procurar hoje. O Fausto e não sei quem, Roberto que é o secretário, para te mostrar o decreto pronto que publica de hoje para amanhã”, consta no áudio gravado entre Marreco e Geraldo.

Galileu também menciona na gravação o nome de Fausto, dizendo que ele queria conversar com Marreco, mas que ele estava em casa e não com ele no momento da ligação, mostrando ainda influência do ex-secretário de governo.

Num segundo áudio ele liga informando o valor da remuneração do cargo.

 

Outro lado

Ao PORTAL, Passos disse que a ligação foi “uma ato humanitário” e não partiu a pedido do prefeito ou de alguém da equipe do governo.

“Na verdade ele está dando uma de herói, mas não é bem assim não. Ele está fazendo uma coação e eu, preocupado com os desdobramentos disso, até com o destino de Divinópolis, dada a repercussão que teria, eu queria ajudar, no sentido de avisar para o pessoal, para a equipe, que isso poderia acontecer. Mas, eu não tenho poder nenhum, quem sou para ter poder no sentido do governo”, afirmou.

Questionado sobre os motivos da coação, se estaria ligada ao PAC e ao PRO Transporte, ele disse que as falas de Marreco sobre o assunto não são denúncias.

“Não tem denúncia, o que ele falou não é denúncia. É ele dando uma de herói sem ser”.

O jornalista ainda afirmou que o denunciante está sendo usado por terceiros.

“A minha concepção disso é que ele foi usado por terceiros, que forçaram a barra em cima dele, além disso, resolveu dar uma de herói sem ser, não é a primeira vez que ele atua desta forma […] Como ele está doente, com problema de circulação, está mancando, e me colocaram que ele estava passando por dificuldades financeiras, aí falei assim: vou tentar ajudar, por que é sabido por todo mundo que ele trabalhou na campanha, acompanha o Galileu há algum tempo. Falei assim: vou ver se consigo falar com os caras lá para resolver isso, para não acontecer. É mais do que justo do ponto de vista político. É uma hipocrisia as pessoas pensarem que não funciona assim”, argumentou.

Passos ainda citou indicações políticas de governos anteriores e disse que são normais, pois o governo precisa se cercar de “pessoas de confiança”.

A esposa do jornalista, Sandra Passos foi nomeada para o cargo de gerente de marketing. No áudio com Marreco ele menciona a nomeação.

Passos ainda relevou que há mais gravações, porém que não foram divulgadas pelo denunciante. O jornalista reafirma as ameaças e diz que Marreco teria recusado o convite por pressão de “terceiros”.

“Ele faz ameaças sim. Isso é coação. Como ele não aceitou por que a pressão foi grande da outra parte, de quem estava insuflando ele, mas não tem nada de herói […] A outra parte [terceiro] está andado bastante com ele ultimamente, a olho nu, mas para evitar mais confusão, prefiro não falar”, finalizou.

Prefeitura

A prefeitura de Divinópolis disse não ter recebido nenhuma denúncia oficial sobre as gravações.

Alguns vereadores de situação questionaram os áudios e sugeriram uma perícia. .

Viralizou

Os áudios viralizaram nesta quarta-feira (25) pelo WhatsApp. Grupos fakes foram criados com o nome e imagem do secretário-adjunto de comunicação, Evandro Araújo. Foram adicionados políticos, lideranças, jornalistas.

Em áudios gravados por Araújo ele esclarece que foi uma armação e que o número do telefone não condiz com o dele. Ele ainda afirma ter registrado ocorrência para identificar o responsável pelo grupo e que tem reunião com o delegado regional, Leonardo Pio agendada para esta quinta-feira (26).


Nota na íntegra encaminhada por Geraldo Passos ao PORTAL:

“É importante destacar o papel que exerço de jornalista e articulista político em Divinópolis e na região. Assim, no exercício dessas atividades, converso com vários segmentos locais e tenho acesso a informações do cenário local, muitas delas antes mesmo que tenham sido efetivadas. Tal condição conquistei graças ao respeito conquistado junto às fontes. Como jornalista, não tenho nenhuma participação na nomeação de ninguém. Tal função só é exercida por quem de direito para fazê-lo. Porém, como cidadão, tenho como princípio ajudar as pessoas e, se estiver ao meu alcance, gostaria muito de ajudar, desde que a pessoa tenha capacidade para exercer qualquer cargo, na esfera pública ou na iniciativa privada.

Qualquer detalhe sobre qualquer cargo é público, está disponível no Portal da Transparência. Cabe ao jornalista buscar as informações. E ainda: como jornalista, recebi do senhor Marcelo um convite para cobrir a reunião da Câmara. Assim, como recebo diariamente convites para cobrir vários outros eventos. Sempre procuro preparar minhas pautas. E, nesse contexto, conversamos sobre a necessidade ou não de se abordar tal assunto.

Sobre a participação de Fausto Barros, ou de qualquer outra pessoa, não houve qualquer ingerência neste sentido uma vez que o mesmo, atualmente, não faz parte do governo e seu nome somente foi mencionado como maneira de dar mais segurança ao Marcelo com relação a nomeação que poderia vir. Fato esse que poderá ser comprovado pelo próprio Marreco, pois ele mesmo informou-me que não recebeu nenhuma ligação de qualquer membro do governo para tratar da sua nomeação ou qualquer outro assunto. Logo, tudo o que sei a respeito do fato foi obtido através de serviço de investigação jornalística, como é natural em pauta de jornalismo político”.