Angústia é algo que eu sinto, que você sente e ninguém entende. É o tal aperto, sufoco, que asfixia sem ser. Angústia é a cor desses e dos próximos dias, que tinge a todos, numa histeria coletiva.
O que acentua a angústia é o medo, e nos dias atuais o medo é da incerteza da mudança de quadro. A solução do problema. Em tempos de pandemia a angústia inicial era o medo de ficar doente. Hoje, com as vacinas, há luz no fim do túnel, mas a angústia persiste.
O medo, agora, é representado pela inoperância e inabilidade de quem deveria dar um alento à população. Muitos se furtam dessa responsabilidade ou, simplesmente, agem tarde demais, sem eficiência. O resultado? Caos, medo e morte.
No país da retórica e da verborragia tudo está pronto em outro plano. Inacessível. Sem ser de fato. Sem responsáveis, a conta recai nas costas de quem deveria ser cuidado.
Somos uma república de “bananas” na medida em que se faz a opção por teatralizar e não resolver de fato os problemas mais urgentes. Fazer política com a dor do outro, ou pior, se mostrar indiferente.
A falta de capacidade, para não dizer competência, do gestor público pode estar matando mais gente nessa pandemia do que o próprio coronavírus e ninguém é responsabilizado. Se a justiça é lenta e cega ela deveria se incomodar, ao menos, com cheiro de morte e tomar atitudes.
A angústia dá lugar à indignação pela falta de compromisso e empatia com o próximo. O que era para ser feito ontem está ficando para amanhã e está tudo certo. A negligência eles resolvem com marketing e nos fazem engolir goela abaixo. E se protestar mais alto, pode-se ir até preso com base numa lei dos tempos da ditadura.
Em meio ao lockdown, mortes e desempregos estamos sitiados. Mas não estamos sozinhos. A angústia faz companhia. Mesmo assim, esses dias dolorosos parecem não atingir alguns, não por resistência, mas por ignorância.
São os que ressoam o que fora aprendido em cartilha errada e desdenham da vida. Não da deles, mas principalmente da do outro. Eles estão por aí aos milhares espalhando sua ignorância e o Covid-19, é claro.
De susto em susto vamos resistindo a esses dias. Tentando diferenciar o bem do mal. O errado do certo. A apreensão serve, também, para aprimorar nossas escolhas. Optar pelo melhor caminho.
Essa decisão não tem a ver com instinto. Tem que ser racional com base nos fatos e relatos que nos chegam todos os dias.
Longe de querer ser um arauto do caos, é incompreensível entender a situação atual – com três mil mortes por dia, falta de oxigênio e medicamentos – como normal. Muito do que é dramático hoje se acentuou pela falta de planejamento adequado e resistência em agir no tempo devido.
Estamos chorando pelo leite já derramado e ainda há muito a entornar. O choro e as consequências.