Marcelo Nunes diz ser desrespeito falar em “fatalidade” na morte de Íris Nascimento e que não sabe qual nome dar à clínica
“Não sei como não morreu mais gente ali”, afirmou o delegado Marcelo Nunes responsável pelo inquérito que apurou a morte de uma paciente na clínica da biomédica Lorena Marcondes, em Divinópolis. A declaração ocorreu na coletiva de imprensa, nesta terça-feira (24/10), para detalhar as investigações que duraram cinco meses.
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) indiciou a biomédica por homicídio doloso qualificado por motivo torpe e traição. Íris Nascimento, de 46 anos, morreu no dia 8 de maio deste ano após sofrer parada cardiorrespiratória durante procedimento estético.
A perícia aponta que a biomédica a submeteu a lipoaspiração, embora, tenha vendido como lipo laser. Íris pagou, então, R$ 12 mil pelo procedimento.
Nunes refutou a alegação de “fatalidade”.
“Existem protocolos. Seguiu tudo que é exigido é fatalidade. Ela estava fazendo procedimentos, cirurgias de grande porte, usando substâncias proibidas, são pouquíssimas pessoas que podem usar, em certos casos determinados em resoluções”, argumentou.
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Lorena Marcondes agiu como dois médicos
Para a Polícia Civil, Lorena agiu como dois médicos, como anestesista, assim como cirurgiã plástica.
“O que ocorreu, falar que foi fatalidade, é desrespeito com a Íris e com outras pessoas. Não sei como não morreu mais gente ali. Temos outros relatos. Aqui estamos apurando o caso Íris. Há várias vítimas apuradas separadamente”, diz Nunes.
A polícia confirmou o uso de lidocaína – um anestésico. O uso excessivo é apontado como uma das causas da morte. Ela injetava, segundo o delegado, sem realizar o cálculo de peso do paciente.
“Se não fizer o cálculo de peso, é veneno. Ela não tira dor (…)”, enfatizou.
Há relatos ainda, conforme Nunes, de pacientes que tiveram alucinações. Em um caso, Lorena teria mandado, então, o paciente a procurar um padre.
“Não sei do que chamar aquilo ali, mas está longe de um consultório”, afirmou o delegado sobre a clínica.
Causa da morte de Íris Nascimento
De acordo com o médico-legista João Paulo Nunes “existe uma cadeia de eventos que levaram a morte da paciente”.
“Você tem traumatismo abdominal penetrante, com sinais evidentes de lipoaspiração, choque hemorrágico, intoxicação anestésica, conduzindo a uma parada cardiorrespiratória, ela contribuiu de forma decisiva para essa aspiração e desfecho do óbito”, afirmou.
A vítima tinha 12 perfurações, 10 no abdômen e dois nos glúteos.
A perícia também submeteu fragmentos do pulmão da paciente a análise. Portanto, ficou comprovado que houve um “dano grave e irreversível de pneumonite e pneumonia aspirativa”. Ao sofrer a parada respiratória, parte do aspirado do abdômen foi para o pulmão.
Contradizendo a declaração da defesa, o delegado disse que não há nenhuma prova comprovando o uso de ansiolítico por Íris.
“Outra, se ela usava tinha obrigação então, de perguntar, de ter exame, o que você faz, você faz uso de algum medicamento, tem algum problema, intercorrência, alergia. Se a pessoa não faz isso, tem coragem de dizer que preocupa com o paciente?”, ponderou Marcelo Nunes.
Indiciamentos
O delegado indiciou a biomédica Lorena Marcondes por homicídio doloso qualificado.
“Por motivo torpe porque ela só visava o lucro. As planilhas não tem dados científicos do paciente, só questões financeiras. Pena mínima de 12 a 30 anos. Traição, ela enganava os pacientes. Ela falava que não era procedimento invasivo. Só no corpo da Íris foi 12 infusões. Se isso não é invasivo, o que é então? Ela enganava as pacientes (…)”, alegou.
As duas funcionárias da clínica foram indiciadas por homicídio simples. A polícia também indiciou todos os envolvidos também por fraude processual.
“Todos tentaram alterar a cena do crime, isso é obvio, está mais do que demonstrado. Limparam o local, esconderam o maquinário, não achamos o material. Temos imagens deles saindo com mala, com as coisas da clínica, saco, o veículo da Ariele chegando no estacionamento, o material foi encontrado lá, lidocaína, toalha com sangue, a toalha está escrito Lorena (…) travesseiro, cânula, provando que houve sim choque hipovolêmico que foi uma das causas que contribuiu para a morte”, detalha Nunes.
Médica Daniela Nery
As investigações continuam. No caso, do suposto envolvimento da médica Daniela Nery – por permitir o uso do carimbo à biomédica para receitar medicamentos, será instaurado outro inquérito. Durante as investigações, ela teria sido convocada como testemunha, porém, não compareceu para depoimento.
Ainda segundo o delegado, a médica não tem ligação com o caso Íris.
“Absurdo”
Tiago Lenoir – advogado da biomédica Lorena Marcondes – tratou como “absurdo” o indiciamento por homicídio doloso por motivação torpe. Criticou a atuação da Polícia Civil, dizendo que o inquérito foi conduzido a “toque de caixas” para dar uma resposta à imprensa.
Disse ainda que a cliente dele não saiu de casa “para matar ninguém” e que Lorena prestou toda a assistência, inclusive prestando o primeiro socorro.