Rodrigo Dias

A chuva é de fato um fenômeno metafórico. Contém uma série de significados que mexem com a imaginação da gente. Chuva é água que cai do céu e lava a terra. Esta mesma chuva também purifica e germina o solo.

O curioso é que o homem, à sua maneira, também chove em si. Fica tão denso que, por vezes, é necessário dissolver-se em chuva. Liquidificar-se nem sempre é sinal de fragilidade, mas aponta a necessidade de purificar-se de alguma forma.

O choro não é só externo. O choro doído é o que ninguém vê. Aquele que nos tira o sono. O homem se dissolvendo nele mesmo. Tal como a chuva que vem do céu, este choro escondido é sinal de purificação e por mais que doa frutificará em algo mais à frente.

Às vezes é mais cômodo se molhar na chuva do que simplesmente correr dela. Ficar reclamando de um tempo ruim. Tudo tem uma razão. Um significado que alguma hora a gente passa a entender.

Se transformar em chuva deveria ser tão natural, para nós, como dormir ou ir ao banheiro. Não que tenha que ser uma prática diária, mas deveria ter lá a sua estação. Um tempo de reclusão e preparo.

Não basta apenas olhar para o céu para ver as nuvens mais pesadas se formando sobre nossas cabeças. É preciso firmar a vista no horizonte e preparar-se para a chuva que vem vindo.

Estar preparado deixa a chuva branda. Tempestades só são devastadoras para quem não cuidou do ambiente. Para evitar que a atmosfera fique pesada e o mau tempo se forme e desabe em água, é necessário garoar às vezes.

Se rir de tudo pode ser sinal de desespero, permanecer duro e não se dissolver em chuva também é sinal de fraqueza. Num terreno árido pouca coisa prospera sem a água. Ela lava a terra, recupera o solo e põe a vida de novo lá.

Manter-se ameno é sinal de clima bom. Caso a chuva apareça não destrói, apenas soma. Cumpre o seu ciclo. Uma questão natural ao tempo e a nós.

Homem é ser humano, frágil, e deve, sim, chorar quando tem vontade; deixar-se diluir, liquidificar-se, para assim ressurgir, renovado e pronto para a batalha. Então, que a cada necessidade nos permitamos chover, para florescer o que há de melhor em nós.